Hanseníase: Brasil Registra Alta nos Casos e Enfrenta Desafios com Estigma e Diagnóstico Precoce
Com 245 mil novos casos nos últimos 10 anos, país concentra 90% das ocorrências nas Américas. Campanha do Janeiro Roxo reforça importância do diagnóstico e tratamento pelo SUS.

O Brasil enfrenta um cenário preocupante em relação à hanseníase. Atrás apenas da Índia em prevalência da doença, o país registrou quase 245 mil novos casos na última década, segundo o Ministério da Saúde. Em 2023, foram contabilizados 22.773 novos diagnósticos, enquanto em 2024, até setembro, mais de 14.400 casos já haviam sido registrados. A doença, que afeta a pele, os nervos periféricos e as mucosas, ainda carrega forte estigma social, mesmo sendo curável e tendo tratamento gratuito disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Comemorado no último domingo de janeiro — este ano, no dia 26 — o Dia Mundial da Hanseníase busca conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce e o combate ao preconceito.
Entenda a Doença
A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo que atinge principalmente a pele e o sistema nervoso periférico. Entre os sintomas mais comuns estão:
- Manchas esbranquiçadas ou avermelhadas com perda de sensibilidade ao calor, frio ou toque;
- Espessamento ou dor em nervos como ulnar, radial e tibial;
- Dormência, formigamento e redução da força motora, podendo causar deformidades como mão em garra ou pé caído;
- Ferimentos indolores nas extremidades, devido à perda de sensibilidade.
Segundo a dermatologista Ana Elisa Mendonça, do Centro Clínico Órion, em Goiânia, a transmissão ocorre por contato prolongado e próximo com uma pessoa infectada e sem tratamento. “A doença é transmitida principalmente por gotículas respiratórias. Embora tenha alta infectividade, 90% das pessoas têm resistência natural ao bacilo, o que impede o desenvolvimento da doença.”
Tratamento e Prevenção
O tratamento é realizado com poliquimioterapia única (PQT-U), fornecida gratuitamente pelo SUS. A duração varia conforme a forma clínica:
- Hanseníase paucibacilar (menos de cinco lesões): tratamento por seis meses;
- Hanseníase multibacilar (mais de cinco lesões): tratamento por 12 meses.
O tratamento interrompe a transmissão da doença já nos primeiros dias de uso e é eficaz para evitar complicações graves, como danos permanentes aos nervos.
A especialista reforça que o diagnóstico precoce é essencial para evitar sequelas. “O atraso no diagnóstico pode levar a deformidades irreversíveis, comprometendo a qualidade de vida do paciente. Por isso, campanhas como o Janeiro Roxo são fundamentais para promover o conhecimento e reduzir o preconceito.”
O Impacto do Preconceito
Apesar dos avanços, a hanseníase ainda é marcada pelo estigma. Historicamente associada a isolamento compulsório e termos pejorativos como “lepra”, a doença carrega mitos que dificultam o acesso ao tratamento. Muitos acreditam, erroneamente, que a hanseníase é altamente contagiosa e incurável, o que contribui para o isolamento social e discriminação dos pacientes.
“O preconceito pode atrasar a busca por atendimento médico, perpetuando o ciclo da doença. Combater a desinformação é tão importante quanto oferecer tratamento”, destaca Ana Elisa.
Janeiro Roxo: Conscientização é o Caminho
A campanha do Janeiro Roxo reforça a necessidade de diagnosticar e tratar a hanseníase para interromper a cadeia de transmissão. A mobilização inclui ações educativas, palestras e treinamentos voltados para profissionais de saúde e a população em geral.
“É essencial que as pessoas saibam que a hanseníase tem cura e que o tratamento pelo SUS é eficaz. Mais do que isso, é preciso combater o preconceito, promovendo dignidade e saúde para os pacientes. A conscientização é o primeiro passo para erradicar a doença no Brasil”, conclui a dermatologista.
Onde Buscar Ajuda
Se você notar os sintomas descritos, procure imediatamente uma unidade básica de saúde. O SUS oferece diagnóstico, tratamento gratuito e acompanhamento integral para casos confirmados.

