Governador Caiado anuncia crédito emergencial e força-tarefa para blindar Goiás dos impactos da tarifa de 50% imposta pelos EUA
Governador reage ao tarifaço anunciado por Donald Trump e cria medidas locais para mitigar perdas da agroindústria goiana, diante da ausência de uma ação articulada do governo federal. Estado figura entre os mais vulneráveis à nova política comercial americana, que entra em vigor em 1º de agosto.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), anunciou neste sábado (19) a adoção de medidas emergenciais para proteger a economia goiana frente à imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, conforme anunciado no último dia 9 pelo ex-presidente americano e atual candidato à presidência, Donald Trump. As sobretaxas, com previsão de entrada em vigor em 1º de agosto, atingem em cheio setores estratégicos para o estado, como soja, carne bovina e derivados do aço — pilares da economia agroindustrial de Goiás.
Em vídeo gravado durante missão oficial no Japão, Caiado classificou o momento como crítico e acusou o governo federal de omissão diante da crise diplomática e comercial com os Estados Unidos. “Não podemos esperar por uma reação que não virá. Goiás não será refém da inação de Brasília”, declarou.
Linha de crédito subsidiada e frente interinstitucional
Entre as primeiras medidas, Caiado determinou a abertura de uma linha de crédito com juros abaixo dos praticados pelo mercado, voltada a empresas goianas que exportam para os EUA ou que podem sofrer efeitos indiretos do chamado tarifaço. A Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços (SIC) e a GoiásFomento trabalham na modelagem da linha, com expectativa de liberação ainda em julho.
Paralelamente, o governador anunciou a criação de um grupo de trabalho multissetorial, reunindo representantes da iniciativa privada, secretarias estaduais, federações empresariais e universidades. O objetivo é monitorar impactos diretos e indiretos, propor medidas estruturantes e preservar empregos no estado. “O foco é garantir estabilidade econômica e proteger cada posto de trabalho ameaçado”, afirmou Caiado.
Um estado vulnerável à política externa americana
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) indicam que Goiás ocupa posição de destaque nas exportações agroindustriais brasileiras, tendo os Estados Unidos como um dos principais destinos de produtos como carne bovina, soja, milho e açúcar. Somente em 2023, o estado exportou mais de US$ 1,2 bilhão para o mercado norte-americano, sendo mais da metade oriunda do agronegócio.
O economista Renato Barbosa, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), alerta que a sobretaxa, se confirmada, poderá desorganizar cadeias produtivas, pressionar preços internos e comprometer o desempenho de pequenas e médias agroindústrias. “Goiás se destaca por sua capilaridade produtiva. Uma sanção desse porte pode gerar efeito dominó, afetando desde grandes exportadores até produtores familiares integrados à cadeia.”
Reação política e silêncio estratégico
Embora evite críticas diretas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Caiado sinalizou insatisfação com a postura do Planalto diante do impasse internacional. No vídeo, citou os ensinamentos do ex-governador Carlos Lacerda, afirmando que “não se comenta política estando fora do país”, mas garantiu que se posicionará publicamente após seu retorno do Japão, previsto para terça-feira (22).
A declaração ocorre após Lula reagir publicamente à imposição das tarifas durante evento estudantil em Goiânia, na última quinta-feira (17). “Não é um gringo que vai dar ordem a esse presidente da República”, declarou o presidente, em referência direta a Trump. Apesar do tom firme, o governo federal ainda não apresentou medidas concretas para mitigar os impactos econômicos da decisão americana.
Expectativas e próximos passos
Ainda não foram divulgadas as regras para acesso à linha de crédito estadual, mas fontes da equipe econômica do governo indicam que o programa poderá priorizar exportadores com contratos ativos com os EUA, além de fornecedores locais de insumos e logística que possam ser impactados pelas quebras contratuais ou cancelamentos.
A expectativa é que o grupo de trabalho apresente um diagnóstico inicial ainda nesta semana, apontando os setores mais vulneráveis e sugerindo medidas de curto e médio prazo.
Especialistas alertam que, sem resposta coordenada da União, estados como Goiás terão que agir de forma autônoma para proteger suas economias regionais. “O protecionismo americano é apenas a ponta do iceberg. A fragilidade do Brasil está na ausência de uma política externa comercial estruturada e previsível”, resume o analista internacional Caio Domingues, consultor do Instituto de Estudos Estratégicos em Comércio Exterior (IEECE).
Com as relações comerciais Brasil-EUA em xeque, a crise inaugura um novo capítulo nas relações diplomáticas e econômicas internacionais do país, exigindo respostas técnicas e políticas urgentes. Em Goiás, o relógio já começou a correr pesado.
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