Golpes contra aposentados por telemarketing disparam e revelam esquema bilionário com descontos indevidos no INSS
Mais de 4 milhões de beneficiários da Previdência foram atingidos por fraudes associadas a call centers que utilizam técnicas abusivas para induzir idosos a autorizar descontos. Especialista explica como os golpes funcionam e orienta sobre como recuperar os valores perdidos.

Uma série de fraudes envolvendo aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem mobilizado autoridades federais e levantado alertas sobre o uso indevido de serviços de telemarketing para aplicar golpes financeiros. A atuação desses call centers resultou em prejuízos de mais de R$ 6 bilhões, segundo estimativa da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), que deflagraram uma operação nacional contra o esquema em abril de 2024.
As fraudes consistem, principalmente, em descontos indevidos em aposentadorias e pensões, realizados sem consentimento dos beneficiários, a partir de abordagens por telefone. De acordo com dados da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), entre 2023 e 2024 foram registradas quase 500 mil reclamações relacionadas a esse tipo de prática — o que reforça a dimensão do problema.
Técnicas de manipulação: como operam os call centers suspeitos
O advogado previdenciarista Jefferson Maleski, do escritório Celso Cândido de Souza Advogados, detalha as estratégias utilizadas pelas empresas de telemarketing para enganar os beneficiários do INSS. Ele alerta que, sob o pretexto de renegociar dívidas ou facilitar o acesso a crédito consignado, os operadores induzem os idosos a contratar novos empréstimos — muitas vezes sem entender que estão assumindo compromissos financeiros maiores.
“Eles utilizam gatilhos mentais e termos enganosos, dizendo, por exemplo, que a parcela do empréstimo será reduzida. Na prática, trata-se de um novo contrato com prazo estendido e juros embutidos. O mais comum é o beneficiário sequer saber que autorizou o desconto”, afirma Maleski.
Além disso, há relatos de associações de classe ou entidades fictícias que descontam mensalidades automaticamente, sem qualquer autorização expressa do segurado.
Fraude sistemática e aliciamento de dados: contexto e gravidade
Segundo as apurações da PF e da CGU, os golpistas atuavam com acesso irregular a dados pessoais dos aposentados, o que indica vazamento de informações sensíveis dentro ou fora do sistema do INSS. A “autorização” dos descontos geralmente era forjada por meio de edições de áudios ou manipulação de gravações telefônicas, com respostas recortadas, como o simples “sim”, fora de contexto.
A prática, segundo especialistas, atinge desproporcionalmente pessoas idosas, com menor letramento digital e dificuldades em identificar procedimentos bancários e jurídicos.
Como identificar descontos indevidos no INSS
Os segurados que desejam conferir se estão sendo vítimas de descontos indevidos devem:
- Acessar o portal ou aplicativo Meu INSS;
- Selecionar a opção “Extrato de Pagamento” para visualizar valores recebidos e descontos aplicados;
- Conferir os extratos retroativos de até cinco anos.
Desde 2024, novas regulamentações do governo federal proibiram descontos por associações ou entidades de classe sem prévia autorização assinada. No entanto, os mecanismos de controle ainda enfrentam brechas exploradas por grupos criminosos.
Como se proteger e reaver os valores perdidos
Maleski orienta os beneficiários a realizarem bloqueios preventivos de novos empréstimos e descontos diretamente pelo aplicativo Meu INSS, site do INSS ou pela central telefônica 135. Segundo ele, essa é a maneira mais eficaz de impedir a atuação remota de golpistas.
Caso já tenham sofrido descontos indevidos, as vítimas devem seguir os seguintes passos:
- Registrar reclamação no site consumidor.gov.br com a conta do gov.br;
- Buscar a via judicial com auxílio de advogado ou defensor público, solicitando a anulação do contrato e a devolução dos valores;
- Exigir a apresentação de documentos como cópia de contrato, gravações telefônicas e autorização expressa por parte da instituição financeira.
“Na maioria das vezes, a única forma eficaz de reaver o dinheiro é por meio de ação judicial. O banco ou associação será obrigado a provar que houve consentimento legítimo. Caso contrário, há jurisprudência favorável à restituição dos valores com correção monetária”, completa o especialista.
A resposta institucional
A Senacon e o INSS vêm reforçando medidas para conter a prática. Já estão em curso novas regras para restringir o acesso de empresas a dados dos segurados, além de esforços para educar os aposentados digitalmente. Em nota, o Ministério da Previdência afirmou que a prioridade é restringir o assédio comercial ilegal e punir administrativamente as empresas envolvidas.
A Polícia Federal também segue investigando o envolvimento de instituições financeiras que estariam se beneficiando do esquema, muitas vezes sem fazer a devida verificação da origem das autorizações para consignados.
O avanço das fraudes por telemarketing contra aposentados expõe falhas estruturais na proteção dos beneficiários da Previdência Social e a urgência de políticas públicas mais eficazes. Ao mesmo tempo, reforça a importância de campanhas de orientação e de ações judiciais céleres para a responsabilização dos envolvidos — tanto nas pontas criminosas quanto nas instituições que se omitem.
Se você ou alguém próximo foi vítima desse tipo de golpe, é fundamental buscar ajuda jurídica, registrar denúncia e interromper imediatamente qualquer novo desconto indevido. A luta contra o assédio financeiro e os abusos contra os idosos começa com informação e vigilância ativa.
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