Goiânia transforma prédio abandonado em moradia popular e requalifica Centro histórico
Projeto marca avanço na reocupação urbana e combate ao déficit habitacional em áreas centrais.

Um marco na requalificação urbana do Centro de Goiânia foi firmado com a assinatura do contrato que transformará o antigo Edifício Senador João Vila Boas, localizado na icônica Avenida Goiás, em moradia popular. Abandonado há mais de 10 anos, o prédio será revitalizado e destinado a 52 famílias de baixa renda, através do programa Minha Casa, Minha Vida – Entidades, em um projeto que alia justiça social à preservação do patrimônio arquitetônico.
A iniciativa é conduzida pelo Movimento pela Reforma Urbana de Goiás (MRU-GO), que venceu uma concorrência nacional, desbancando inclusive uma cooperativa habitacional de Brasília, e obteve junto à Superintendência do Patrimônio da União em Goiás (SPU-GO) o contrato de cessão do imóvel por regime de direito real de uso. A proposta foi aprovada pela Caixa Econômica Federal, operadora dos financiamentos, dentro da modalidade Retrofit, que prioriza a requalificação de imóveis urbanos ociosos.
Com 13 pavimentos (subsolo, térreo e 11 andares), o prédio será batizado como Residencial Altino Alves Teixeira e passará por obras a partir de agosto de 2025, com previsão de entrega em até dois anos. O investimento, financiado pelo programa federal, será de R$ 210 mil por unidade, totalizando R$ 10,9 milhões. O projeto também manterá os traços originais em art déco, estilo marcante da arquitetura da capital goiana, conforme garantido pelo projeto arquitetônico.
“Requalificar o Centro é dar vida à cidade. E a moradia digna deve estar onde já existe infraestrutura e mobilidade. Esse prédio estava invisível e agora será símbolo de inclusão”, afirma Simone Teixeira, presidente do MRU-GO.
De símbolo do abandono a referência em inclusão urbana
A requalificação do edifício representa uma virada de página para o Centro de Goiânia. Com localização estratégica entre a Avenida Goiás e a Rua 2, o prédio já abrigou, nos anos 1980, uma agência da Caixa Econômica Federal. Desde então, foi alvo de pedidos para uso institucional, como da Superintendência do Incra em Goiás, mas jamais foi efetivamente ocupado. Imagens de 2011 já denunciavam sua degradação.
Em 2010, o Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito para investigar o abandono do imóvel e os riscos à saúde pública, apontando, inclusive, presença de criadouros de mosquitos da dengue e ocupações irregulares. Um laudo técnico de 2014 reforçou o estado precário do prédio, destacando a ausência de janelas, fiação, forro e pisos, além da insegurança estrutural.
“É um imóvel ocioso há muito tempo, localizado no coração da cidade. A utilização dentro do Minha Casa, Minha Vida cumpre a função social da propriedade e fortalece o Centro como área viva e habitada”, afirma Rosana Carvalho, superintendente da SPU-GO.
Retrofit e cogestão: um novo modelo de política habitacional
O projeto marca também a implementação efetiva da nova modalidade de Retrofit no Minha Casa, Minha Vida – Entidades, instituída em 2023. Por essa linha, entidades sem fins lucrativos como o MRU-GO apresentam propostas e executam, em cogestão com a comunidade, projetos habitacionais voltados a famílias com renda de até dois salários mínimos. O modelo visa resgatar áreas urbanas degradadas, aproveitando imóveis públicos inutilizados.
A entidade goiana, que acompanha as famílias há pelo menos dois anos, afirma que todas as selecionadas se enquadram nos critérios da faixa 1 do programa. A seleção foi feita antes mesmo da submissão do projeto, em conformidade com os requisitos da Caixa.
“Sempre lutamos por moradia no Centro, com acesso a transporte, serviços e dignidade. A moradia popular não pode ficar só nas periferias. Essa é uma vitória coletiva da cidade”, reforça Simone Teixeira.
Impacto na paisagem urbana e social
A transformação do antigo prédio da Caixa em moradia atende não apenas a uma demanda habitacional, mas também a uma urgência urbanística: resgatar a centralidade de Goiânia como espaço de convivência e vida social. A ocupação habitacional de áreas centrais inibe processos de degradação, incentiva o comércio local e valoriza o transporte coletivo.
Casos como o do Edifício Dandara, reocupado no Centro de São Paulo, serviram de inspiração para o projeto goiano. A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, tem enfatizado a importância de utilizar o patrimônio público para finalidades sociais e urbanas de interesse coletivo.
Com o início das obras previsto para agosto, o Residencial Altino Alves Teixeira promete se tornar referência nacional em uso social do patrimônio público, conjugando inclusão social, preservação histórica e revitalização urbana. Em um cenário de escassez habitacional e de centros urbanos esvaziados, o projeto resgata o papel do Estado na promoção de cidades mais justas e integradas.
“Goiânia avança quando transforma abandono em oportunidade. É disso que precisamos: de políticas públicas inteligentes, humanas e conectadas à realidade urbana e social”, conclui Rosana Carvalho.
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