Goiânia sob Milhares de Olhos: A Explosão de Câmeras na Capital e os Desafios da Vigilância Pública
Com Mais de 4 Mil Dispositivos Já Ativos e Projeção de 6 Mil, a Cidade se Torna um Mosaico de Monitoramento, Mas a Confusão sobre Responsabilidades e o Custo da Tecnologia Geram Questionamentos.

A paisagem urbana de Goiânia está em plena transformação, pontilhada por uma quantidade sem precedentes de olhos eletrônicos. A capital goiana já conta com mais de 4 mil câmeras de monitoramento espalhadas por suas ruas e espaços públicos, um salto vertiginoso em relação aos menos de 100 aparelhos ativos há pouco mais de um ano. A projeção é que esse número chegue a impressionantes 6 mil até o final de 2025, excluindo os milhares de dispositivos particulares em residências e comércios. Contudo, essa rápida expansão traz à tona desafios complexos, que vão desde a dificuldade em identificar a propriedade e função de cada câmera até a transparência dos investimentos públicos.
A proliferação é tão intensa que, em um trecho de apenas 1,7 quilômetros da movimentada Avenida T-63, já foram identificadas pelo menos 21 câmeras com as mais variadas finalidades: do combate à criminalidade ao controle de velocidade, passando pelo monitoramento de semáforos, estacionamentos e até mesmo do uso de celulares ao volante. Algumas, porém, permanecem desligadas, legados de projetos descontinuados que contribuem para a desordem visual e a confusão.
O Custo da Vigilância: Um Investimento em Números
Apesar do aumento significativo no número de câmeras, a quantificação exata dos gastos específicos com esses equipamentos em 2025 é granular e pulverizada em diferentes contratos e orçamentos. No entanto, é possível contextualizar o volume de recursos envolvidos:
Investimentos em Tecnologia e Segurança em Goiânia (Estimativas e Dados Conhecidos)
Área/Programa | Detalhes e Estimativas |
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Investimentos Atuais e Contratuais
Órgão Responsável | Tipo de Câmeras | Estimativa de Quantidade Ativa (por contrato) | Notas |
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SMM | Radares de velocidade/faixa Preferenciais | 85 (instalados e funcionando) + 64 (ajuste p/ aferição) + 18 (aguardando equipamentos) | Medem velocidade, uso de faixas preferenciais, avanço de semáforo e faixa de pedestre. |
SMM | Videomonitoramento (CCO) | 24 (ativas, com link e energia); previsão de 100 até dezembro | Monitoramento ao vivo, 360°, zoom. Auxiliam fluxo e ocorrências; não multam automaticamente. |
RMTC/Redemob | Semáforos Inteligentes (BRTs) | 20 (BRT Leste-Oeste, trecho 1) | Câmeras com IA para monitorar ônibus e priorizá-los em cruzamentos. |
RMTC/Redemob | Terminais/Estações/Frota | 2.618 (já instaladas) | Em terminais, estações de BRT e nova frota de ônibus. Parte com IA para reconhecimento facial. |
SSP-GO | Conecta Goiás (parceria privada) | 509 (câmeras de empresas privadas vinculadas) | Expandem a vigilância em vias públicas, com totens instalados em frente a condomínios/empreendimentos. |
Total Mínimo Atual | Diversos Tipos | ~4.000 (estimado) | Não inclui câmeras particulares ou os equipamentos ainda a serem ligados/instalados. |
Projeção Futura | Diversos Tipos | ~6.000 (até final de 2025) | Aumento previsto pela SMM e RMTC/Redemob. |
Projeção RMTC/Redemob (até final 2026) | Monitoramento Transporte Coletivo | 6.560 | Inclui câmeras em estações, terminais e na frota, com forte investimento em IA. |
A Confusão nas Ruas e a Origem Desconhecida
Apesar dos investimentos, a desorganização é visível. Na própria T-63, uma câmera em um poste no canteiro central, próximo à Praça Wilson Sales, é um mistério: a Prefeitura de Goiânia afirma que os aparelhos não são de nenhum contrato municipal, nem houve autorização para a instalação. A SSP-GO também nega ligação. Essa situação levanta a séria questão da legalidade e do controle sobre a infraestrutura de vigilância da cidade, além do descarte de equipamentos antigos que, mesmo inoperantes, permanecem em postes.
A Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), ex-Secretaria de Engenharia de Trânsito (SET), é um dos principais atores nesse cenário. Responsável por dois grandes contratos de fiscalização e monitoramento de trânsito, a SMM gerencia tanto os radares — hoje 85 em funcionamento (com previsão de mais 82 sendo instalados e aferidos) que aplicam multas após sinalização clara — quanto as 24 câmeras de videomonitoramento ao vivo, que servem como “olhos” do Centro de Controle Operacional (CCO) para o fluxo e ocorrências. A SMM garante que “somente os locais que contam com sinalização clara de ‘fiscalização eletrônica’ estão habilitados para autuações”.
O “Olho” no Transporte Coletivo e a Inteligência Artificial
O transporte coletivo também está na mira. Um convênio entre a Prefeitura e o consórcio Redemob visa modernizar a sincronização semafórica e monitorar os corredores de BRT. Foram instaladas 20 câmeras inteligentes no BRT Leste-Oeste (trecho 1 da Anhanguera), que usam inteligência artificial (IA) para priorizar ônibus nos cruzamentos, agilizando o tráfego e coletando dados detalhados sobre velocidade, tempo de percurso e fila.
A segurança dos passageiros e dos ativos também é prioridade. A Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC) e o Redemob já instalaram um total de 2.618 câmeras em terminais, estações de BRT e na nova frota de ônibus. Uma parte desses equipamentos possui IA para reconhecimento facial de foragidos e procurados, além de detectar invasão de áreas restritas. A ambiciosa meta é chegar a 6.560 câmeras até o final de 2026 em toda a região metropolitana, demonstrando um investimento maciço na vigilância inteligente.
Parcerias e o Futuro da Vigilância
A segurança pública em Goiânia também é reforçada por colaborações, como o programa Conecta Goiás, da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP-GO). Lançado em 2025, permite a integração de imagens de 509 câmeras de empresas privadas, instaladas em totens na frente de condomínios e empreendimentos. A SSP-GO prevê expandir ainda mais esse sistema em todo o estado, considerando-o um passo crucial para a modernização do combate ao crime.
Apesar do entusiasmo com a “cidade inteligente” e mais segura, a ausência de um mapeamento claro e a falta de remoção de câmeras desativadas levantam questionamentos sobre a gestão eficiente desses recursos e o impacto visual no espaço público. A proliferação desordenada de dispositivos exige uma governança mais robusta para garantir que a segurança e a eficiência não venham acompanhadas de mais confusão para o cidadão.
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