Funcionário é preso por furtar café avaliado em R$ 28 mil para sustentar vício em apostas no “Jogo do Tigrinho”
Polícia Civil de Goiás prende homem de 33 anos em Mineiros após identificar série de furtos de café. Investigado confessou ter cometido os crimes para alimentar dependência em apostas digitais. Empresários que compraram produto ilícito também são alvo de inquérito

Um caso emblemático que une furto qualificado, abuso de confiança e os efeitos sociais das apostas online ganhou destaque em Mineiros, município do sudoeste goiano. Um funcionário terceirizado de uma empresa distribuidora de café foi preso nesta semana pela Polícia Civil de Goiás, suspeito de ter furtado, em pelo menos cinco ocasiões, cerca de 300 quilos de café — produto avaliado em R$ 28 mil — para financiar apostas digitais no chamado “Jogo do Tigrinho”.
De acordo com o delegado Marcos de Oliveira Gomes, responsável pelas investigações, a prisão ocorreu após o proprietário da empresa afetada procurar a delegacia e relatar uma queda incomum no estoque e denúncias de que o mesmo café estava sendo revendido por terceiros na cidade, a preços incompatíveis com o praticado no mercado local.
“A vítima nos informou que teria sido subtraído mais de 300 kg de café, com prejuízo aproximado de R$ 28 mil. A partir disso, realizamos diligências e localizamos o suspeito, que espontaneamente confessou os furtos durante a oitiva. O mais grave é que ele reconheceu estar dependente de apostas, principalmente do popular ‘Jogo do Tigrinho’, e que todos os valores arrecadados com a revenda do café eram destinados a essa finalidade”, afirmou o delegado à imprensa.
Furto em série, abuso de confiança e participação de empresários
O investigado, que tinha acesso facilitado ao estoque de café por atuar como prestador de serviço junto à empresa, foi indiciado pelos crimes de furto qualificado e abuso de confiança. Segundo a Polícia Civil, ele usava a posição para retirar gradualmente fardos de café do local, sem levantar suspeitas imediatas.
Durante as investigações, a polícia identificou uma cadeia paralela de revenda, revelada após a vítima entrar em contato com um comerciante local que teria adquirido parte do produto. O comerciante, por sua vez, apontou como fornecedora uma empresária da cidade, que admitiu ter comprado o café diretamente do suspeito, mesmo ciente da origem ilícita.
“A empresária teria adquirido o café por valor abaixo do mercado, com plena ciência de que se tratava de produto furtado. Isso agrava sua conduta e a insere no inquérito como partícipe do crime. Agora buscamos identificar outros possíveis compradores e o grau de envolvimento de cada um”, detalhou o delegado Marcos de Oliveira.
O impacto das apostas digitais e a vulnerabilidade de trabalhadores
O caso acende um alerta para o crescimento exponencial da dependência em jogos e apostas online, especialmente o chamado “Jogo do Tigrinho” — um caça-níquel digital, amplamente divulgado em redes sociais, que atrai principalmente usuários de baixa renda com promessas ilusórias de ganhos fáceis.
Especialistas em comportamento digital e vício em jogos alertam que trabalhadores em situação econômica vulnerável são particularmente suscetíveis a desenvolver comportamentos compulsivos, levando à prática de crimes para sustentar o vício.
“Esse tipo de aposta não é só um passatempo; é estruturado para criar dependência. Quando se trata de trabalhadores com acesso a bens, como estoques ou mercadorias, o risco de furto para sustentar o jogo se torna real”, aponta a psicóloga e pesquisadora em comportamento digital Carla Mendes, da UFG.
Investigação em andamento
A Polícia Civil informou que o inquérito segue em curso para identificar e responsabilizar outros possíveis envolvidos na receptação e revenda do café furtado. O nome dos investigados não foi revelado, em respeito ao sigilo processual.
O homem detido encontra-se à disposição da Justiça, podendo responder por até oito anos de prisão, somadas as penas pelos crimes de furto qualificado, abuso de confiança e possível associação criminosa.
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