Ex-presidente da Goinfra é solto após investigação de fraude milionária
Lucas Vissotto e outros ex-servidores deixam a prisão após fim da temporária; defesa alega inocência, mas polícia aponta indícios de corrupção e lavagem de dinheiro

O ex-presidente da Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), Lucas Alberto Vissotto Júnior, foi solto neste domingo (2), após o vencimento da sua prisão temporária. Outros quatro ex-servidores investigados na mesma operação — Thiago Carim Bucker, Gabriel Tertuliano, Vitor Andrisani Berquó e Adriano Mendes Ribeiro — também deixaram a cadeia. Todos foram alvos da Operação Obra Simulada, que apura um esquema milionário de fraude em contratos da Goinfra.
A investigação, conduzida pela Polícia Civil de Goiás (PC-GO), revelou indícios de desvio de pelo menos R$ 10,4 milhões em um contrato firmado com uma empresa do Distrito Federal para manutenção de prédios públicos entre 2023 e 2024. A apuração aponta que a empresa contratada recebeu pagamentos antecipados e irregulares, sem que as obras tivessem sido efetivamente realizadas. Além disso, há fortes suspeitas de superfaturamento nos serviços prestados.
DEFESA ALEGOU INOCÊNCIA, MAS PROVAS APONTAM IRREGULARIDADES
A defesa de Lucas Vissotto e Thiago Carim divulgou nota afirmando que ambos “sempre estiveram à disposição das autoridades” e que “apresentaram fatos e provas que demonstram de forma inequívoca a inexistência de qualquer irregularidade”. Apesar disso, documentos técnicos e auditorias realizadas por órgãos de fiscalização contradizem essa versão.
Os relatórios foram elaborados pela Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra), Controladoria Geral do Estado (CGE) e Gerência Estratégica da Polícia Civil na Seinfra. As análises constataram que o contrato sofreu mudanças indevidas, passando de um simples serviço de manutenção para um contrato de engenharia com valores inflados.
Em alguns casos, estruturas inteiras foram demolidas sem necessidade, apenas para justificar a emissão de notas fiscais fraudulentas e possibilitar pagamentos ilegais à empresa contratada. A polícia também identificou a participação de ex-membros da Diretoria de Gestão Integrada da Goinfra, gestores e fiscais do contrato no esquema.
LAVAGEM DE DINHEIRO E SAQUES NA “BOCA DO CAIXA”
As investigações apontam ainda para um esquema de lavagem de dinheiro. O dinheiro desviado dos cofres públicos teria sido direcionado para empresas de fachada ligadas a familiares e amigos de um suposto “sócio oculto” da empresa contratada.
Além disso, houve saques volumosos diretamente na boca do caixa, logo após os pagamentos irregulares feitos pela Goinfra. Essa prática é comum em esquemas de corrupção para dificultar o rastreamento do dinheiro ilícito.
EMPRESÁRIO SEGUE PRESO E OUTROS INVESTIGADOS PODEM RESPONDER EM LIBERDADE
Enquanto os ex-servidores foram soltos, o empresário Marcus Emmanoel Chaves Vieira, administrador da empresa investigada, segue preso. Ele se apresentou voluntariamente à polícia em 30 de janeiro e permanece detido, pois o prazo da sua prisão temporária ainda não expirou.
O caso ganhou repercussão no ano passado, quando seis servidores da Goinfra foram exonerados pelo governador Ronaldo Caiado (UB) após as primeiras denúncias da CGE e da Seinfra. Pouco depois, o contrato suspeito foi cancelado e foram abertos processos administrativos contra os envolvidos.
Além disso, em abril de 2024, o Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO) determinou a suspensão de uma licitação da Goinfra para compra de aduelas de concreto para pontes, por suspeita de superfaturamento de R$ 62 milhões. Esse caso também faz parte do inquérito policial.
PRÓXIMOS PASSOS DA INVESTIGAÇÃO
Apesar da soltura dos investigados, a Polícia Civil segue aprofundando as apurações e pode denunciar os envolvidos à Justiça nos próximos meses. A expectativa é que o Ministério Público de Goiás (MP-GO) ofereça denúncia formal contra os suspeitos, que poderão responder por crimes como corrupção, peculato, fraude em licitações e lavagem de dinheiro.
Enquanto isso, a Goinfra busca recuperar sua credibilidade e tem adotado medidas de reforço na transparência e na fiscalização de contratos. A sociedade aguarda os desdobramentos do caso, que pode expor um dos maiores escândalos de corrupção na infraestrutura de Goiás nos últimos anos.
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