Ex-companheiro rompe tornozeleira eletrônica, atropela e mata mulher a facadas, em Aparecida de Goiânia
Gracielle Borges de Sousa, de 39 anos, foi esfaqueada após ser atropelada; suspeito, que havia rompido tornozeleira, se entregou à polícia logo após o crime
O feminicídio de Gracielle Borges de Sousa, uma cabeleireira de 39 anos, chocou a comunidade de Aparecida de Goiânia na noite de sexta-feira (27). Ela foi brutalmente assassinada pelo ex-companheiro, de 42 anos, que a atropelou e esfaqueou após romper a tornozeleira eletrônica que monitorava seus movimentos devido a uma medida protetiva obtida pela vítima. O crime aconteceu no Setor Jardim Bela Vista, em Aparecida de Goiânia, e expôs, mais uma vez, a vulnerabilidade de mulheres que são vítimas de violência doméstica.
Histórico de violência e ruptura da tornozeleira
Gracielle já havia denunciado o agressor anteriormente, o que resultou na emissão de uma medida protetiva e no monitoramento do homem por uma tornozeleira eletrônica. De acordo com a Polícia Civil, na tarde de sexta-feira, o suspeito rompeu o dispositivo e foi ao encontro da vítima. A Delegacia Geral de Administração Penitenciária (DGAP), responsável pelo monitoramento da tornozeleira, tentou contato com a vítima após perceber a quebra do aparelho, mas, segundo o boletim de ocorrência, a chamada foi atendida por um homem que informou que Gracielle estava gravemente ferida.
O Corpo de Bombeiros foi imediatamente acionado e encontrou a cabeleireira já esfaqueada e caída no chão. Gracielle foi levada ao Hospital de Urgências de Goiás (Hugo), onde passou por uma cirurgia de emergência, mas não resistiu aos ferimentos. O corpo de Gracielle foi velado e sepultado na manhã de domingo (29), deixando um filho de 14 anos, fruto da relação com o agressor.
Dinâmica do crime
Segundo as investigações, o suspeito não apenas atropelou a ex-companheira, como também saiu do carro para desferir várias facadas contra ela. O ataque aconteceu em plena rua, no Jardim Bela Vista, bairro residencial de Aparecida de Goiânia. Moradores locais testemunharam a cena e relataram o desespero ao ver a vítima sendo atacada.
Gracielle era conhecida na comunidade por ser uma pessoa pacífica e dedicada ao seu trabalho como cabeleireira. A violência contra ela, no entanto, não era recente. Amigos próximos e familiares revelaram que ela enfrentava anos de abusos físicos e psicológicos, o que culminou em sua decisão de pedir uma medida protetiva, que, infelizmente, não foi suficiente para evitar o trágico desfecho.
Falha no sistema de monitoramento?
O rompimento da tornozeleira eletrônica reacendeu o debate sobre a eficácia do monitoramento de agressores em casos de violência doméstica. Embora a DGAP tenha tentado contato com a vítima assim que detectou o rompimento, o tempo de resposta foi insuficiente para impedir o feminicídio. Especialistas em segurança pública criticam o sistema por sua ineficácia em proteger as vítimas em situações de risco imediato.
“O rompimento de uma tornozeleira deveria acionar imediatamente as forças de segurança para que medidas urgentes fossem tomadas. Se o agressor rompe o dispositivo, é um sinal claro de que algo grave está para acontecer”, argumenta a advogada Isabel Nogueira, especialista em direito das mulheres.
Suspeito preso em flagrante
Após cometer o crime, o suspeito se dirigiu até a Central de Flagrantes de Aparecida de Goiânia e se entregou, confessando o assassinato da ex-companheira. Ele foi preso em flagrante e responderá pelo crime de feminicídio, que é qualificado pela lei brasileira como homicídio praticado contra mulheres por razões da condição de sexo feminino, envolvendo violência doméstica e familiar.
A Polícia Civil afirmou que o homem já havia sido denunciado por Gracielle em outras ocasiões por violência doméstica, reforçando o caráter premeditado do crime. “Estamos diante de um caso trágico, onde uma mulher buscou proteção do Estado, mas infelizmente foi brutalmente assassinada pelo homem que deveria ser monitorado”, declarou o delegado responsável pelo caso.
Mobilização da sociedade
O feminicídio de Gracielle gerou comoção em Aparecida de Goiânia e abriu uma nova onda de discussões sobre a segurança das mulheres vítimas de violência doméstica. Organizações que atuam no combate ao feminicídio e à violência contra a mulher já se mobilizam para protestar contra as falhas no sistema de proteção. Um ato público em memória de Gracielle e de outras vítimas está sendo planejado para os próximos dias.
“A tragédia que tirou a vida de Gracielle poderia ter sido evitada se o monitoramento fosse mais eficaz e as medidas de proteção realmente garantissem a segurança das mulheres”, afirmou a ativista Marília Ferreira, membro de uma ONG local que atua na defesa dos direitos das mulheres.
Crescente violência contra mulheres
O estado de Goiás tem registrado um aumento preocupante nos casos de feminicídio, conforme indicam os dados da Secretaria de Segurança Pública. Em 2023, os números de assassinatos de mulheres por seus companheiros ou ex-companheiros cresceram em 15%, refletindo a persistente vulnerabilidade das mulheres em situações de violência doméstica.
A Secretaria de Políticas para as Mulheres, em parceria com outras entidades, busca reforçar campanhas de conscientização e ampliar o acesso às medidas protetivas. No entanto, o caso de Gracielle Borges expõe as falhas no sistema de monitoramento e a necessidade urgente de aprimoramento no acompanhamento dos agressores.
A morte de Gracielle Borges de Sousa é mais um capítulo doloroso na luta contra a violência de gênero no Brasil. Sua história reflete o sofrimento de muitas mulheres que, mesmo com medidas protetivas, acabam sendo vítimas fatais de seus agressores. O caso levanta questões sobre a eficácia do monitoramento eletrônico e a agilidade na resposta das autoridades em situações críticas.