Estoque de tinta inseticida para combate à dengue em Goiânia segue sem uso; gestão promete fiscalização e eficácia do produto
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) tem 23,6 mil litros de tinta comprada para combater o mosquito da dengue, mas apenas metade foi utilizada.

Em meio ao crescente número de casos de dengue em Goiânia, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) enfrenta um dilema envolvendo o combate à doença. A pasta possui em estoque 23,6 mil litros de tinta inseticida, adquirida no início de 2024, mas que ainda está armazenada sem aplicação efetiva. Embora o governo municipal tenha investido R$ 21,3 milhões na compra do produto, que deveria ser utilizado para a pintura de unidades de saúde e controle do mosquito Aedes aegypti, apenas metade dessa quantidade foi empregada até o final do ano passado.
A tinta foi adquirida com a justificativa de que ajudaria no controle de vetores, mas a aplicação do produto não foi concluída dentro do cronograma. A gestão atual da SMS, que assumiu a pasta em 2025, declarou que está aguardando da empresa fornecedora, Saúde Mais, um cronograma de aplicação atualizado, com a promessa de utilizar todo o estoque antes da data de vencimento, entre novembro e dezembro de 2025. Para garantir a eficiência da ação, a gestão afirmou que realizará a supervisão técnica da aplicação e da eficácia do produto.
O investimento de R$ 21,3 milhões foi feito pela gestão anterior, sob o comando do médico Wilson Pollara, com a compra de 12 mil latas do produto. Cada lata foi adquirida por R$ 1,7 mil e, de acordo com o portal da transparência da Prefeitura, os pagamentos ocorreram em junho e julho de 2024. A empresa Saúde Mais, responsável pelo fornecimento e aplicação do produto, retirou do almoxarifado 24,3 mil litros para pintar 101 unidades de saúde da capital, cobrindo 145,8 mil metros quadrados de muros e paredes. No entanto, a aplicação não atingiu o objetivo de combater diretamente o mosquito transmissor da dengue, gerando dúvidas sobre a eficácia do produto.
Especialistas na área de saúde pública têm se mostrado céticos quanto à eficiência da tinta. Embora o produto tenha sido vendido com a promessa de que ajudaria no controle da epidemia de dengue, os profissionais alertam que, para um combate eficaz, é fundamental que a administração pública tenha respaldo científico e comprovado sobre a real eficácia do produto antes de sua utilização em larga escala. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também entrou no cenário ao indeferir o registro do produto como saneante, o que aumenta a desconfiança sobre a sua real efetividade. A Anvisa, no entanto, garantiu que a tinta possui autorização de comercialização válida, mas não apresentou provas conclusivas sobre a sua eficácia contra o vetor da dengue.
Em resposta às críticas, a SMS afirmou que o uso do produto será monitorado e que a eficácia será avaliada com rigor, conforme os procedimentos técnicos. No entanto, especialistas alertam que a adoção de soluções que não se baseiam em estudos científicos rigorosos pode comprometer os esforços no combate à epidemia.
Enquanto isso, o cenário epidemiológico da dengue em Goiânia continua preocupante. A cidade já notificou 1,6 mil casos da doença e está investigando quatro mortes. O governo estadual e federal reconheceram a situação de emergência em saúde pública devido ao aumento dos casos de dengue, priorizando recursos e ações para a capital goiana. Além disso, o sorotipo 3 do vírus, que circulava em Goiás há anos, voltou a ser identificado, aumentando a gravidade da situação. A proliferação do Aedes aegypti é acelerada pelo acúmulo de água das chuvas, o que exige medidas rápidas e eficazes.
A tinta inseticida pode ser uma das soluções propostas, mas a população de Goiânia espera que as autoridades não apenas cumpram as promessas de fiscalização e aplicação, mas também que a ação seja realmente eficiente para combater a proliferação do mosquito transmissor da dengue. A sociedade aguarda por respostas concretas e ações que tragam resultados positivos na luta contra a epidemia.
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