Deputada Marussa Boldrin rompe o silêncio e denuncia agressões do ex-marido: “A dor psicológica é muito maior”
Parlamentar relata anos de violência verbal e física, revela medo de denunciar e reforça a importância de dar voz a mulheres vítimas de abuso.

A deputada federal Marussa Boldrin (MDB-GO) tornou pública, nesta segunda-feira (28), uma denúncia grave de violência doméstica sofrida durante seu casamento de quase oito anos. Em entrevista e em nota divulgada em suas redes sociais, a parlamentar relatou ter sido vítima de agressões físicas e abusos psicológicos praticados por seu ex-marido, o advogado Sinomar Júnior. O caso já tramita na Justiça, sob segredo judicial, e resultou na concessão de uma medida protetiva em favor da deputada.
Segundo Marussa, a primeira agressão física ocorreu em 2023, após meses de violência verbal e humilhações constantes. A segunda agressão, ainda mais severa, aconteceu em março de 2025, quando ela manifestou sua decisão de se separar.
“Eu pensei: se eu, que sou deputada federal, tenho dificuldade de me expressar e pedir ajuda, imagine quantas mulheres passam por isso sem conseguir denunciar”, disse Marussa, emocionada.
Em seu relato, a parlamentar descreveu que as ofensas verbais — com palavras como “burra” e “incompetente” — evoluíram para ataques físicos brutais. Em uma das ocasiões, um dos filhos do casal, de apenas quatro anos, presenciou a cena de violência, o que tornou a decisão de romper o relacionamento ainda mais urgente.
Inicialmente, a deputada chegou a procurar uma delegacia após a primeira agressão, mas, tomada pelo medo e pela manipulação emocional, não formalizou a denúncia. Na segunda agressão, porém, encontrou forças para registrar o boletim de ocorrência e iniciar o processo de separação judicial, que já foi concluído.
“Eu não sei se consigo mensurar o tamanho dessa dor. Ele me bateu muito e deixou várias marcas pelo meu corpo”, relatou.
Além da dor física, Marussa destacou o sofrimento psicológico que enfrentou, descrevendo o abuso emocional contínuo que a levava a duvidar de si mesma:
“A dor física é terrível, mas a dor mental é muito maior. Eu estava com o psicológico tão abalado que comecei a acreditar que ele estava certo. Se tivesse que definir tudo o que vivi em uma palavra, seria ‘angústia’.”
O outro lado e a investigação
Procurado pela reportagem, o advogado Sinomar Júnior não respondeu às tentativas de contato até a publicação desta matéria. Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) declarou que, como o processo corre em segredo de justiça, não tem acesso aos autos para análise de possível infração ética.
A denúncia apresentada por Marussa é investigada pela Justiça em âmbito de violência doméstica, com base na Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), considerada um dos marcos no combate à violência contra a mulher no Brasil.
Impacto e repercussão
A revelação feita por Marussa Boldrin provocou grande repercussão no meio político e entre entidades de defesa dos direitos das mulheres. Organizações como a Comissão da Mulher Advogada da OAB-GO e movimentos feministas manifestaram apoio público à parlamentar e reforçaram a importância de dar visibilidade a casos de violência doméstica, independentemente da posição social ou cargo ocupado pelas vítimas.
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a violência doméstica atinge cerca de 1 em cada 4 mulheres no Brasil. O medo, a dependência emocional e a pressão social são fatores que ainda impedem muitas vítimas de denunciar seus agressores.
Marussa encerrou sua nota aberta com uma mensagem de encorajamento:
“Que a minha voz sirva para dar coragem a outras mulheres que, como eu, lutam para recuperar sua dignidade, sua segurança e sua liberdade.”
Nota da Ordem dos Advogados do Brasil — Seção Goiás (OAB-GO)
A Ordem dos Advogados do Brasil — Seção Goiás (OAB-GO) informa que tomou conhecimento do caso, por meio de informações divulgadas em canais de comunicação, nesta segunda-feira, 28 de abril, acerca da suposta acusação de violência doméstica envolvendo o advogado.
A Seccional esclarece que o processo tramita em segredo de justiça e, portanto, não possui acesso aos autos para eventual análise de conduta ética. Nessas situações, o acompanhamento pela Ordem depende de provocação voluntária das partes envolvidas no processo.
A OAB-GO reforça que, mesmo em casos não vinculados ao exercício da advocacia, permanece à disposição para, em caso de provocação, analisar os fatos com responsabilidade, observando rigorosamente o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório, conforme garantido pela Constituição Federal. Além disso, reitera que, nos termos do art. 72, § 2º, da Lei Federal nº 8.906/94, todos os processos disciplinares são sigilosos, não sendo permitida a divulgação das providências eventualmente adotadas, nem mesmo acerca de sua instauração.
OAB-GO
Carta aberta publicada pela deputada
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