Crise no SUS: Atraso de R$ 3 Milhões para Clínicas de Diálise em Goiânia Ameaça Atendimento Vital
Mais de 1.800 pacientes renais correm risco de perder tratamento essencial devido à inadimplência no repasse de verbas federais pelo município.

A crise dos atrasos no repasse de verbas para clínicas de diálise em Goiânia ameaça diretamente a sobrevivência de milhares de pacientes renais crônicos que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). O montante de R$ 3 milhões, destinado ao custeio das sessões de hemodiálise referentes ao mês de outubro de 2024, deveria ter sido repassado pelo município até 2 de dezembro, conforme a legislação vigente. Contudo, mais de duas semanas após o prazo, as clínicas ainda não receberam os valores.
Atualmente, nove clínicas conveniadas atendem cerca de 1.800 pacientes na capital goiana, prestando serviços vitais sem garantia de pagamento. A saída do secretário de saúde Wilson Pollara em novembro agravou o cenário, deixando a gestão em um limbo administrativo que compromete ainda mais a situação financeira dessas unidades.
Clínicas no Limite
Mesmo sem receber os recursos, as clínicas continuam atendendo os pacientes. No entanto, o cenário é de incerteza. “Estamos no limite. Não sabemos por quanto tempo conseguiremos manter o atendimento sem o repasse. É uma negligência com vidas humanas”, declarou a gestora de uma clínica afetada, sob condição de anonimato.
O impacto do atraso vai além da gestão financeira. A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) alerta para o risco de fechamento de unidades conveniadas, o que reduziria drasticamente a oferta de tratamento. “A interrupção no atendimento não é uma ameaça futura, mas uma realidade iminente se os pagamentos não forem regularizados”, afirmou o presidente da entidade, Dr. Yussif Ali Mere Júnior.
Desafios e Injustiças do Sistema
De acordo com a ABCDT, atrasos nos repasses são frequentes em várias partes do país, mas em Goiânia, a situação é especialmente grave. “A legislação estipula um prazo de cinco dias úteis para que os recursos federais sejam repassados às clínicas após o município recebê-los. Quando esse prazo é desrespeitado, não há sanções reais para os gestores públicos responsáveis, perpetuando um ciclo de descaso”, enfatizou Dr. Yussif.
Além disso, os atrasos afetam diretamente a capacidade das clínicas de manter seus serviços operacionais, como a compra de insumos médicos e o pagamento de profissionais de saúde especializados.
Riscos Para os Pacientes
Os pacientes renais crônicos necessitam de sessões regulares de hemodiálise para sobreviver. Cada sessão, realizada cerca de três vezes por semana, substitui a função dos rins, filtrando e purificando o sangue. A falta de acesso ao tratamento pode levar a complicações fatais em poucos dias.
“A saúde desses pacientes não pode ser tratada como algo secundário. Para eles, cada sessão é questão de vida ou morte”, declarou o nefrologista Dr. Eduardo Siqueira, que atua em uma das clínicas conveniadas.
Apelo e Caminhos Possíveis
A ABCDT e as clínicas afetadas apelam ao Ministério da Saúde e à Prefeitura de Goiânia para que priorizem o pagamento das verbas atrasadas e estabeleçam medidas para evitar novos atrasos no futuro. A criação de um fundo emergencial e o endurecimento de penalizações para descumprimentos legais estão entre as propostas sugeridas por especialistas em saúde pública.
Além disso, a associação sugere que os gestores municipais adotem maior transparência na administração dos recursos e dialoguem com as unidades conveniadas para garantir a continuidade do atendimento.
A crise em Goiânia expõe uma das facetas mais graves da fragilidade na saúde pública brasileira: a inadimplência no repasse de verbas essenciais. Enquanto pacientes renais e clínicas aguardam soluções imediatas, a negligência administrativa continua colocando vidas em risco.
Fontes:
- Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT)
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