Crise na Saúde de Goiânia: terceiro secretário pede exoneração em menos de três semanas
Pedro Guilherme Gioia deixa o cargo em meio à intervenção estadual na Saúde municipal, apontando dificuldades de gestão e centralização de decisões.

Pedro Guilherme Gioia, secretário municipal de Saúde de Goiânia, pediu exoneração nesta segunda-feira (16). Em nota oficial, Gioia destacou que, diante do cenário de intervenção estadual na Saúde municipal, a figura do secretário se tornou “dispensável”, reforçando a necessidade de decisões centralizadas para lidar com a grave crise que atinge a pasta. Sua saída ocorre apenas 12 dias após assumir o cargo, consolidando um período de instabilidade no comando da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que já viu três titulares deixarem a função em menos de três semanas.
Intervenção estadual e cenário caótico
A crise na Saúde de Goiânia atingiu níveis alarmantes após a prisão do então secretário Wilson Pollara durante a Operação Comorbidade, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) em 27 de novembro. Pollara é investigado por supostos pagamentos irregulares a prestadores de serviços, agravando uma situação já crítica marcada por:
- Mortes de pacientes à espera de leitos de UTI.
- Falta de medicamentos e insumos básicos nas unidades de saúde.
- Interrupção de serviços terceirizados devido a atrasos nos pagamentos.
Com o agravamento do quadro, o governo estadual decretou intervenção na Saúde municipal em 9 de dezembro. O interventor nomeado, médico Márcio de Paula Leite, assumiu poderes sobre a área e recebeu autonomia para reestruturar o sistema.
Instabilidade no comando
A renúncia de Gioia é mais um capítulo da turbulência que afeta a gestão da SMS. Ele substituiu Cynara Mathias, que também pediu exoneração após apenas sete dias no cargo. Cynara havia sido nomeada para substituir Wilson Pollara, preso dias antes. Essa rápida sucessão de secretários reflete a dificuldade em encontrar estabilidade em meio ao colapso do sistema.
Declaração de Pedro Guilherme Gioia
Em sua carta de exoneração, Gioia afirmou que a secretaria enfrenta um momento de extrema complexidade, demandando decisões centralizadas e objetivas. “A dispersão de fluxos e múltiplos tomadores de decisão compromete a agilidade necessária para superar os desafios da Saúde municipal”, afirmou o ex-secretário, justificando sua saída.
Interventor assume o comando absoluto
Com a vacância do cargo de secretário municipal, o interventor Márcio de Paula Leite se consolida como figura central na gestão da Saúde em Goiânia. Apelidado nos bastidores de “prefeito da Saúde”, Leite possui autonomia em relação ao prefeito Rogério Cruz e conta com o apoio de um Conselho Consultivo estadual e um Comitê de Observação formado por membros da próxima gestão municipal.
O interventor poderá utilizar recursos e infraestrutura do governo estadual até o final de 2024, período estipulado pelo decreto de intervenção. Leite já iniciou medidas emergenciais para recompor estoques de medicamentos, reativar serviços suspensos e priorizar o atendimento nas unidades mais afetadas.
O que esperar da nova gestão?
Com a intervenção, há expectativa de uma maior organização na gestão de recursos e no enfrentamento da crise. No entanto, especialistas alertam que os problemas estruturais da Saúde municipal de Goiânia, acumulados ao longo de anos, exigem mais do que medidas paliativas. Planejamento estratégico, transparência nos gastos e fortalecimento das parcerias entre governo estadual e municipal serão fundamentais para evitar o retorno do caos.