Comurg investiga pagamentos de até R$ 1,4 milhão em série de acordos suspeitos; número de afastados chega a 38
Empresa municipal amplia investigação sobre pagamentos extrajudiciais suspeitos. Comurg identifica “fábrica” de acordos salariais fora da legalidade e aciona MP-GO e Polícia Civil. Total de envolvidos chega a 38, com indícios de conluio político na gestão anterior.

A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) afastou nesta quinta-feira (26) mais quatro servidores suspeitos de participação em um esquema de acordos extrajudiciais com indícios de ilegalidade. Os novos afastamentos se somam a outros 34 realizados em fevereiro deste ano, totalizando 38 investigado. Os valores pagos indevidamente aos quatro últimos afastados chegam a R$ 1,4 milhão por pessoa.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a atual gestão da Comurg conseguiu localizar documentos anteriormente considerados desaparecidos, revelando a formalização de pagamentos que ignoraram etapas obrigatórias de controle jurídico e contábil. A direção da empresa aponta a existência de uma “estrutura organizada” para simular a legalidade de acordos administrativos que visavam o recebimento de diferenças salariais e retroativos de gratificações, algumas vezes não reconhecidas legalmente.
Supostos conluios e repasses a terceiros
Em ao menos três casos documentados nas sindicâncias já concluídas, servidoras afirmaram ter repassado parte do valor recebido a terceiros, o que reforça a linha de investigação sobre uma possível prática de lavagem de dinheiro ou desvio de recursos em benefício de um grupo político. As denúncias envolvem a suspeita de que os acordos administrativos — celebrados sem autorização judicial e à margem da Procuradoria Jurídica da companhia — eram superfaturados intencionalmente para que o excedente fosse redistribuído.
Afastamento remunerado e medidas disciplinares
Os quatro servidores agora afastados seguem recebendo remuneração enquanto tramitam sindicâncias e Processos Administrativos Disciplinares (PADs). Assim como os anteriores, os afastamentos são de 60 dias, com possibilidade de prorrogação. A Comurg confirmou que os funcionários anteriormente suspensos retornaram às funções em 9 de junho, embora continuem respondendo aos procedimentos disciplinares e, eventualmente, criminais.
“Nosso esforço agora é reconstituir cada um dos processos, identificar quem assinou, quem atestou, quem aprovou e quais etapas foram suprimidas. Há uma forte suspeita de atuação coordenada para driblar os mecanismos de controle da empresa”, afirmou uma fonte da alta direção da Comurg sob anonimato.
MP e Polícia Civil entram em cena
As investigações internas já resultaram no envio de pelo menos seis sindicâncias ao Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e à Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap), da Polícia Civil. O objetivo é responsabilizar criminalmente os envolvidos, além de buscar a devolução dos recursos públicos por meio de ações judiciais.
O MP-GO confirmou à reportagem que instaurou procedimento preparatório para apurar eventuais atos de improbidade administrativa e crimes como peculato e associação criminosa.
Contexto político e suspeitas sobre antiga gestão
As denúncias surgiram no início de 2024, após a mudança no comando da Comurg, quando a nova direção iniciou uma varredura nas contas e contratos da companhia. Fontes ligadas à empresa afirmam que os supostos acordos ilegais eram praticados durante a gestão anterior.
A reportagem apurou que uma das linhas investigativas considera o envolvimento de pessoas próximas à cúpula do antigo comando da Comurg, com possível ligação direta com setores influentes da administração municipal. Os indícios apontam para uma prática reiterada, sistemática e com participação de múltiplos departamentos.
Próximos passos
A expectativa agora é de aprofundamento das apurações e possível abertura de inquérito civil e criminal contra os envolvidos. A devolução dos valores pagos de forma irregular, caso se confirme a ilegalidade, dependerá de sentença judicial.
A defesa dos quatro servidores afastados não foi localizada até o fechamento desta matéria.
Tags: #Comurg #Goiânia #Corrupção #ServiçoPúblico #MinistérioPúblico #PolíciaCivil #AcordosExtrajudiciais #Investigação #PrefeituraDeGoiânia #GestãoPública