Carga clandestina de madeira nobre da Amazônia é apreendida pela PRF em Goiás
Mais de 80 m³ da espécie acapu, ameaçada de extinção, foram encontrados escondidos em caminhão com nota fiscal fraudulenta de fertilizante. Apreensão reforça alerta sobre rota ilegal de desmatamento que liga o Pará ao Centro-Oeste.
Em uma operação de fiscalização na BR-153, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu neste fim de semana um carregamento clandestino com mais de 80 metros cúbicos de madeira nativa da Amazônia, em uma das maiores apreensões do ano no estado de Goiás. A carga ilegal, composta por toras da valiosa e protegida espécie acapu (Vouacapoua americana), foi interceptada no município de Porangatu, no norte do estado, e vinha do Pará, um dos principais focos de extração ilegal na floresta.
O caminhão, de grande porte, chamou atenção dos agentes por discrepâncias nos documentos apresentados. A nota fiscal informava o transporte de fertilizantes, mas a inspeção da carga revelou o contrário: troncos serrados e empilhados de uma das madeiras mais resistentes e cobiçadas do mercado internacional, conhecida por sua alta durabilidade e resistência a pragas, fungos e apodrecimento.
Crime ambiental disfarçado: acapu em extinção
A espécie acapu, listada como “em perigo” pela Portaria nº 443/2014 do Ministério do Meio Ambiente, é protegida por lei e tem corte e comercialização proibidos sem autorização especial. Devido ao seu crescimento lento e ao alto valor comercial, ela se tornou alvo constante de exploração predatória, especialmente em áreas recém-desmatadas da Amazônia.
Essa madeira, frequentemente utilizada na construção civil, postes, pontes e estruturas rurais, tem sido escoada clandestinamente por rotas que cruzam o país, passando por rodovias federais como a BR-153, usada como corredor logístico por redes de desmatamento e tráfico de madeira.
Segundo a PRF, o caminhão interceptado possuía documentação claramente fraudulenta, tentativa comum em esquemas que utilizam “lavagem de madeira” — termo usado por especialistas para descrever o uso de documentos falsos para dar aparência legal à carga ilegal.
Destino sob investigação: quem compra madeira ilegal?
A carga apreendida segue agora sob custódia e perícia técnica. A PRF encaminhou o caso ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que deve realizar a análise da madeira, verificar sua origem e acionar os órgãos estaduais de fiscalização e tributação, como a Secretaria de Economia de Goiás.
Fontes da fiscalização informaram que a carga poderia ter como destino final galpões de revenda ou obras em grandes propriedades rurais do Centro-Oeste, mercado onde o acapu é valorizado por sua resistência estrutural e longa durabilidade, mesmo sem tratamento químico.
Contexto maior: uma floresta sob ataque
A apreensão ocorre em um momento crítico para o combate ao desmatamento na Amazônia. Dados do Monitor do Fogo, do INPE, mostram que áreas de floresta nativa seguem sofrendo pressão por grilagem e exploração ilegal, com madeira nobre como um dos principais vetores de lucro das redes criminosas.
Estudos do Imazon apontam que o estado do Pará segue como líder em extração ilegal de madeira na Amazônia Legal, com grande parte do material escoado para estados do Centro-Oeste e Sudeste, onde a fiscalização ainda enfrenta dificuldades técnicas e operacionais para rastrear a origem da carga.
A PRF tem reforçado operações integradas com o IBAMA, ICMBio e Receita Federal para coibir esse tipo de crime. “Cada apreensão representa uma vitória pontual, mas o desafio é desmantelar toda a cadeia ilegal — do corte ao consumidor”, afirmou um agente da operação.
Caminho do crime: do Pará ao Centro-Oeste
A BR-153, conhecida como Transbrasiliana, tem sido apontada por especialistas como uma das principais rotas do tráfico de madeira nobre. Cargas com documentação adulterada partem do interior do Pará e atravessam o Tocantins até chegarem ao norte de Goiás. De lá, podem seguir para Minas Gerais, São Paulo ou Mato Grosso.
Em 2024, a PRF já havia realizado outras grandes apreensões na mesma rodovia. A reincidência dos casos indica a existência de rotas logísticas estruturadas por redes criminosas ambientais, que operam com forte articulação e conhecimento das brechas legais.
A carga agora será periciada, e o caminhoneiro poderá responder por crime ambiental, uso de documento falso e transporte ilegal de produto florestal, com penas que podem ultrapassar seis anos de prisão.
Se você suspeita de transporte irregular de madeira, denuncie anonimamente:
📞 Linha Verde do IBAMA: 0800 61 8080
🌐 www.gov.br/ibama
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