Apenas 26% dos brasileiros com diabetes tipo 2 alcançam o controle glicêmico ideal, apontam estudos
Baixa taxa de controle expõe milhões de pacientes a maior risco de complicações cardiovasculares e renais; especialistas reforçam necessidade de integração do cuidado e rastreamento precoce.

Estudos recentes sobre o manejo do diabetes tipo 2 (DM2) no Brasil revelam um cenário preocupante: somente 26% dos pacientes atingem a meta glicêmica recomendada por diretrizes nacionais e internacionais. O dado, sustentado por pesquisas epidemiológicas e por análises clínicas publicadas nos últimos anos, indica uma lacuna persistente entre diagnóstico, acompanhamento adequado e resposta terapêutica.
O controle insuficiente da glicemia é reconhecido como um dos principais fatores que potencializam a ocorrência de eventos cardiovasculares e renais. Evidências científicas demonstram que mesmo uma demora de um ano para ajustar o tratamento em pacientes descompensados pode elevar de forma significativa o risco de infarto, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca. A interdependência entre doenças metabólicas, cardiovasculares e renais reforça a necessidade de vigilância ampliada.
“O diabetes tipo 2 precisa ser compreendido como uma condição que ultrapassa a esfera glicêmica. A prevenção de complicações cardiorrenais exige rastreamento precoce, terapias eficazes e acompanhamento contínuo”, afirma o endocrinologista e metabologista Dr. Wellington Santana da Silva Júnior, titulado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Uma população numerosa e vulnerável
O Brasil figura entre os países com maior número absoluto de pessoas vivendo com diabetes: mais de 16 milhões de adultos, de acordo com estimativas internacionais. Parte expressiva desse contingente enfrenta diagnóstico tardio, tratamento irregular e dificuldade de acesso à atenção especializada.
A falta de controle adequado tem consequências graves. Aproximadamente 40% dos indivíduos com DM2 podem desenvolver doença renal do diabetes ao longo da vida, condição que, por sua vez, torna-se um importante preditor de eventos cardiovasculares. A probabilidade de um paciente diabético apresentar doença cardiovascular é até 60% maior do que na população sem diabetes.
Rastrear para intervir
A detecção precoce da doença renal do diabetes depende de exames simples e amplamente disponíveis, como a dosagem de creatinina sérica (para estimar a taxa de filtração glomerular) e a razão albumina/creatinina na urina. Contudo, especialistas apontam que a incorporação sistemática desses exames ainda enfrenta barreiras, seja por falta de orientação, seja por dificuldade de acesso.
“Quanto mais cedo identificamos sinais de comprometimento renal, maiores são as chances de impedir sua progressão. Hoje dispomos de ferramentas terapêuticas eficazes para proteger tanto o rim quanto o coração”, destaca Dr. Wellington.
Integração como caminho
A comunidade científica tem defendido uma abordagem integrada que considere simultaneamente risco metabólico, cardíaco e renal. Modelos que se limitam ao controle isolado da glicemia mostram-se insuficientes para reduzir os desfechos adversos associados ao DM2.
Nessa perspectiva, diversos estudos têm demonstrado que determinadas classes de medicamentos antidiabéticos oferecem benefícios adicionais, especialmente para proteção cardiorrenal. A empagliflozina é uma das moléculas mais investigadas e com resultados robustos:
- EMPA-REG OUTCOME: redução de 38% no risco relativo de morte cardiovascular e 55% na necessidade de terapia renal substitutiva em pessoas com DM2 e doença cardiovascular estabelecida.
- EMPEROR-Reduced: redução de 25% no risco combinado de morte cardiovascular ou primeira hospitalização por insuficiência cardíaca, em indivíduos com fração de ejeção reduzida, independentemente da presença de diabetes.
- EMPEROR-Preserved: benefício de 21% na mesma combinação de desfechos em pacientes com fração de ejeção preservada.
- EMPA-KIDNEY: queda de 28% no risco de progressão da doença renal crônica ou morte cardiovascular, em uma população ampla, com e sem diabetes.
Evidências que redefinem práticas clínicas
A convergência das pesquisas tem levado sociedades médicas a enfatizar o manejo do diabetes a partir de uma ótica ampliada. Intervenções que consideram o conjunto de riscos cardiorrenais, e não apenas a glicemia isolada, já orientam diretrizes nacionais e internacionais.
“O tratamento baseado em evidências permite oferecer o que há de mais eficaz para proteger pacientes de suas principais causas de morbimortalidade. A cardio- e nefroproteção representam hoje pilares tão essenciais quanto o próprio controle glicêmico”, conclui o especialista.
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