18 de dezembro de 2025
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Abandono institucional expõe a decadência dos mercados municipais de Goiânia

Sem investimentos estruturais, com promessas não cumpridas e gestão fragmentada, espaços históricos da capital operam no limite da precariedade enquanto a Prefeitura transfere responsabilidades e aposta em concessões ainda indefinidas
No Mercado da Vila Nova, parede com estrutura de coluna exposta é um dos menores problemas enfrentados (Fábio Lima/O Popular)

Símbolos da vida econômica, cultural e social de Goiânia, os mercados municipais atravessam um processo de deterioração acelerada que expõe falhas graves de gestão e a ausência de uma política pública consistente por parte da Prefeitura. O caso mais emblemático é o Mercado Municipal da Vila Nova, onde problemas crônicos de infraestrutura levaram à suspensão das atividades culturais e escancararam anos de negligência do poder público.

Goteiras constantes, fiação exposta, infiltrações, mofo em paredes e tetos, iluminação deficiente e banheiros inadequados compõem o cenário enfrentado diariamente por comerciantes e frequentadores. A situação é agravada pela inexistência de alvarás sanitário e do Corpo de Bombeiros, o que inviabiliza eventos e coloca em risco a segurança de trabalhadores e do público. Ainda assim, a administração municipal se limita a reconhecer o problema e adotar medidas paliativas, sem apresentar um plano efetivo de recuperação.

Fundado em 1957, o Mercado da Vila Nova passou por sua última reforma relevante em 1998, restrita a pintura e pequenos reparos. Desde então, nenhuma intervenção estrutural foi realizada. Em 2023, a gestão anterior anunciou um pacote de reformas para todos os mercados municipais, orçado em R$ 2,5 milhões, mas o projeto não avançou. A atual administração admite não ter conhecimento de contrato vigente nem confirma qualquer repasse de recursos, enquanto apurações indicam que a licitação sequer saiu do papel e acabou arquivada.

Para os permissionários, o abandono é evidente. Dos 37 comerciantes autorizados, pouco mais da metade mantém as portas abertas, em meio a corredores marcados por boxes fechados e queda no fluxo de clientes. O mercado, que já foi referência regional e palco de expressivas manifestações culturais — especialmente rodas de samba e eventos comunitários —, perdeu vitalidade justamente pela incapacidade da Prefeitura de garantir condições mínimas de funcionamento.

A Secretaria Municipal de Gestão de Negócios e Parcerias (Segenp), responsável pela administração dos mercados, reconhece que os problemas se repetem em outras unidades da capital, como os mercados do Setor Pedro Ludovico e o Mercado Popular, ambos com falhas no telhado e vulneráveis no período chuvoso. A resposta oficial, no entanto, segue restrita a levantamentos técnicos e reparos emergenciais, insuficientes diante da degradação acumulada ao longo de décadas.

Enquanto isso, a Prefeitura avança no discurso da concessão à iniciativa privada como alternativa para superar o colapso. Estudos de viabilidade vêm sendo conduzidos pelo Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades (IPGC) em ao menos oito mercados municipais. O problema é que, até o momento, não há definição clara sobre modelo, prazos, garantias aos permissionários nem salvaguardas para o patrimônio público. A estratégia soa menos como planejamento e mais como transferência de responsabilidade, após anos de omissão do próprio município.

A situação se torna ainda mais sensível diante do reconhecimento recente dos mercados municipais como Patrimônio Cultural Imaterial de Goiânia. O título, que deveria reforçar a preservação desses espaços, contrasta com a realidade de abandono e gera insegurança, sobretudo no Mercado da Vila Nova, onde coexistem comerciantes permissionários e estabelecimentos privados no entorno. A indefinição sobre como o poder público irá atuar nesses contextos amplia a sensação de desamparo.

Outro ponto crítico é a decisão da Prefeitura de iniciar a cobrança integral do consumo de água dos permissionários, até então custeado pelo município. Amparada em decreto antigo, a medida ignora a fragilidade financeira dos comerciantes e não vem acompanhada de contrapartidas em manutenção, limpeza ou segurança, aprofundando a crise operacional dos mercados.

O quadro revela uma gestão que reconhece os problemas, mas não entrega soluções estruturais. Entre promessas não cumpridas, estudos intermináveis e ações emergenciais, os mercados municipais de Goiânia seguem agonizando. O resultado é a perda de vitalidade econômica, o esvaziamento cultural e a degradação de espaços que fazem parte da memória e da identidade da cidade — um custo que recai diretamente sobre comerciantes, moradores e a própria população goianiense.

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Marcus

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