Ciência em Goiás tem apoio relevante da Fapeg, mas baixa prioridade no orçamento estadual
Painel nacional revela protagonismo da fundação goiana no financiamento à pesquisa, ao mesmo tempo em que expõe esforço fiscal reduzido e desafios estruturais no sistema científico do estado

O financiamento da ciência em Goiás apresenta um paradoxo relevante: embora a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) exerça papel central no custeio da pesquisa e da inovação, a ciência permanece entre as áreas de menor prioridade no orçamento estadual. É o que revela o Painel do Financiamento das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), levantamento nacional inédito que sistematiza dados sobre ciência, tecnologia e inovação nos estados brasileiros e no Distrito Federal.
Segundo o painel, Goiás destinou R$ 254 milhões à ciência em 2024. Desse total, a Fapeg respondeu por R$ 102 milhões, o equivalente a 40% dos recursos aplicados no estado, percentual considerado elevado no contexto nacional. O restante foi composto por aportes federais, com destaque para a Capes, responsável por R$ 76 milhões em bolsas, o CNPq, com R$ 39,6 milhões, e a Finep, que investiu R$ 36,5 milhões em apoio institucional.
Esse arranjo confere à Fapeg uma capacidade significativa de indução do sistema científico estadual, permitindo ao governo goiano direcionar políticas de pesquisa e inovação de forma relativamente autônoma. No entanto, os indicadores fiscais revelam limitações estruturais. O esforço fiscal de Goiás — que mede a parcela da arrecadação de impostos destinada à fundação de amparo à pesquisa — foi de apenas 0,15%, colocando o estado na 24ª posição entre as 27 unidades da federação. A média nacional é de 0,39%.
Na prática, o índice posiciona Goiás entre os estados que menos priorizam a ciência em seus orçamentos, ao lado de Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe. Em contraste, Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas e Alagoas destinam entre 0,70% e 0,83% de suas receitas tributárias ao financiamento da pesquisa científica.
O levantamento também aponta que o investimento per capita da Fapeg foi de R$ 16,90 por habitante, valor inferior à média nacional de R$ 21,08 e que coloca Goiás na 14ª posição nesse ranking. Estados como São Paulo, Distrito Federal e Espírito Santo lideram com aportes significativamente mais elevados por cidadão, evidenciando disparidades regionais no financiamento da ciência.
Em relação à alocação de recursos por pesquisador, Goiás apresenta desempenho intermediário. O investimento médio por pesquisador foi de R$ 12,1 mil, praticamente alinhado à média nacional, de R$ 12,2 mil, o que sugere uma distribuição relativamente equilibrada dos recursos disponíveis. Ainda assim, o estado enfrenta um desafio estrutural relevante: a densidade de pesquisadores. Goiás registra 139 pesquisadores por 100 mil habitantes, ocupando a 19ª posição no país, bem abaixo da média nacional de 186.
Para especialistas envolvidos na elaboração do painel, os dados reforçam a importância da transparência e da coordenação entre esferas de governo. A professora Soraya Smaili, coordenadora do Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU_Ciência), destaca que a plataforma permite comparar modelos de financiamento e identificar assimetrias que impactam o desenvolvimento científico regional. Já Maria Angélica Minhoto, coordenadora do Painel do Financiamento das FAPs, ressalta que os dados evidenciam um ponto central do debate público: investimento em ciência não é despesa, mas estratégia de desenvolvimento, inovação e soberania.
O diagnóstico exposto pelo painel indica que Goiás possui uma fundação de amparo atuante e relevante, mas carece de maior comprometimento orçamentário do Estado para ampliar sua base científica, fortalecer a formação de pesquisadores e reduzir desigualdades regionais no acesso à pesquisa e à inovação.
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