Cobrança para dependentes do Ipasgo redefine custeio e expõe disputa sobre futuro do plano de saúde dos servidores em Goiás
Nova regra, aprovada pela Assembleia Legislativa, institui contribuição individual por dependente e busca reduzir o déficit estrutural do Ipasgo, estimado em R$ 354 milhões para 2026. Medida divide parlamentares e reacende debate sobre sustentabilidade financeira e impacto sobre servidores de baixa renda.

A reestruturação do modelo de custeio do Ipasgo Saúde — principal plano dos servidores públicos de Goiás — terá, a partir de janeiro, uma mudança decisiva: os dependentes passarão a contribuir individualmente, com valores que variam de R$ 50 a R$ 332, conforme a faixa etária. A alteração, aprovada pela Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), atingirá 154 mil dependentes atualmente vinculados ao modelo em que apenas o titular arca com percentual fixo sobre o próprio salário, independentemente do número de familiares incluídos.
O diretor de Relacionamento e Produtos do Ipasgo, Rafael Luz, afirma que o grupo de dependentes que não contribui representa uma parcela reduzida do total, mas responsável por peso significativo no custeio. Segundo ele, quase 70% do impacto dos reajustes anuais decorre desse segmento, que utiliza o plano sem qualquer contraprestação financeira direta.
Para Luz, o novo formato é essencial para frear o déficit crescente:
“O Ipasgo acumula projeção de R$ 354 milhões de déficit para 2026. Com a cobrança dos dependentes que hoje não contribuem, estimamos arrecadação adicional de R$ 247 milhões, reduzindo o déficit estimado para cerca de R$ 106 milhões no ano subsequente”, explicou.
O plano atende atualmente 584 mil beneficiários, distribuídos entre titulares e dependentes. O modelo vigente permite ao servidor incluir número ilimitado de familiares, pagando apenas um percentual fixo do salário — situação que, segundo a gestão, contribuiu para desequilíbrio atuarial persistente.
Para evitar onerosidade excessiva, o Ipasgo instituiu teto familiar: o somatório das contribuições dos dependentes não poderá ultrapassar o valor pago pelo titular. Assim, se um servidor paga R$ 300 como mensalidade e seus dependentes somarem R$ 500, o montante total será limitado a R$ 600.
Como é e como ficará o custeio

Atualmente:
– Plano básico (enfermaria): desconto de até 6,81% do salário.
– Plano especial (apartamento): até 12,48%.
– Uma única mensalidade por grupo familiar, sem limite de dependentes.
Como ficará:
– Cada dependente pagará valor próprio, conforme idade.
– Mantém-se a contribuição proporcional do titular.
– Entra em vigor o teto familiar para evitar cobrança acima da capacidade contributiva.
Reação política e críticas à mudança
A aprovação foi acompanhada de forte debate político na Alego. A oposição e parte da base governista afirmaram que a medida onera servidores, sobretudo os de menor renda.
A deputada Bia de Lima (PT) argumentou que trabalhadores da Educação não conseguirão sustentar o plano familiar com os novos valores. Gustavo Sebba (PSDB) destacou que o Ipasgo, após deixar de ser autarquia, tornou-se mais caro e perdeu qualidade, segundo relatos de beneficiários.
O descontentamento chegou à própria base do governo. Gugu Nader (Avante) criticou a ausência de diálogo e afirmou reavaliar seu apoio:
“Eu fiz o compromisso de jamais votar contra servidores. Em Itumbiara são mais de 15 mil conveniados do Ipasgo, e estou honrando esse compromisso.”
O único a defender integralmente o projeto foi Amaury Ribeiro (UB), que classificou a aprovação como necessária para evitar colapso financeiro:
“Se não aprovarmos, o Ipasgo vai sucumbir. Não é uma matéria que gostaríamos de votar, mas é indispensável para garantir a continuidade do serviço.”
A votação final registrou 25 votos favoráveis e 9 contrários, demonstrando divisão significativa mesmo entre parlamentares aliados ao governo.
Debate estrutural e impacto futuro
Com a aprovação, o governo estadual sustenta que o Ipasgo entra em uma rota de reequilíbrio financeiro, enfrentando distorções acumuladas ao longo de décadas. Críticos, contudo, afirmam que a medida desloca a responsabilidade para servidores e suas famílias, sem apresentar plano abrangente de gestão, auditoria ou modernização dos serviços prestados.
Especialistas em saúde suplementar destacam que o desequilíbrio atuarial é um problema recorrente em planos públicos estaduais, mas alertam que ajustes bruscos em valores de contribuição podem provocar evasão de usuários, agravando o quadro financeiro — risco que, segundo a direção do Ipasgo, será mitigado pelo teto familiar e pela possibilidade de redistribuição mais justa dos custos.
O cenário agora depende da implementação prática das novas regras e da capacidade do órgão em promover transparência, previsibilidade e melhorias assistenciais, como cobram sindicatos e usuários.
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