Dezembro Verde expõe a crise silenciosa do abandono de animais e a sobrecarga de protetores, em Itumbiara
Campanha nacional evidencia a dimensão real do problema no município, onde a ausência de registros unificados, o aumento de casos de maus-tratos e a exaustão de voluntários revelam um cenário crítico e persistente.

O Dezembro Verde, campanha que chama atenção para o abandono e os maus-tratos contra animais em todo o país, assume um caráter particularmente urgente em Itumbiara (GO). No município, o número crescente de animais em situação de risco e a sobrecarga emocional e financeira de protetores independentes revelam um problema estrutural, agravado pela falta de conscientização e por práticas recorrentes de negligência.
Segundo levantamento conduzido por estudantes do curso de Medicina Veterinária da Una Itumbiara, cerca de mil animais dependem hoje, de forma direta, da atuação combinada de ONGs locais, protetores independentes e da Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ). Trata-se de um volume que ultrapassa a capacidade operacional das instituições e expõe a ausência de políticas continuadas de controle populacional e educação comunitária.
Um cenário de vulnerabilidade crescente
A estudante Clarice Duarte Marques, estagiária do departamento de bem-estar animal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, descreve o cenário como “um fluxo contínuo e desumano de abandono”, impulsionado pela falta de responsabilidade e pela omissão de parte da população. De acordo com ela, os casos que chegam ao conhecimento das autoridades representam apenas uma fração da realidade: muitos animais sequer acessam os serviços públicos, e protetores não conseguem registrar todas as ocorrências.
Entre os casos mais frequentes estão filhotes descartados, animais vítimas de agressões, queimaduras, fraturas, parasitoses severas, desnutrição e outras situações que evidenciam negligência prolongada. A inexistência de um sistema municipal de registro torna impossível dimensionar com precisão a totalidade das ocorrências, dificultando o planejamento de ações públicas de maior alcance.
Adoção responsável como eixo de mudança
Para Clarice, a adoção responsável ainda é mal compreendida e, muitas vezes, substituída por decisões impulsivas. Ela destaca que assumir um animal implica “planejamento, estabilidade e compromisso de longo prazo”, o que inclui arcar com despesas veterinárias, garantir ambiente adequado, castrar, educar e acompanhar o animal durante toda a sua vida.
Os principais fatores que levam ao retorno ou abandono de animais adotados incluem falta de preparo, desconhecimento sobre cuidados essenciais, dificuldades financeiras, mudanças de endereço e episódios de instabilidade familiar. A campanha reforça que adoção é um ato ético e definitivo, não uma solução pontual ou emocional.
Denúncias e mobilização
Em casos de maus-tratos, a orientação é clara: registrar evidências e encaminhar denúncias diretamente aos canais oficiais, como CASAPET e UVZ, evitando sobrecarregar protetores que já lidam com demandas acima do limite. A denúncia, segundo especialistas, é um instrumento de cidadania e um dever coletivo — essencial para interromper ciclos de violência e abandono.
Uma campanha que revela mais do que combate
O Dezembro Verde, embora tradicionalmente marcado por ações de conscientização, acaba funcionando como um termômetro da crise permanente vivida por animais domésticos em centenas de cidades brasileiras. Em Itumbiara, a mobilização evidencia não apenas o sofrimento dos animais, mas também o esgotamento daqueles que, voluntariamente, tentam suprir lacunas deixadas pelo poder público e pela sociedade.
Mais do que uma campanha anual, o movimento escancara a necessidade de responsabilidade, empatia e políticas públicas mais sólidas, além de um pacto comunitário que reconheça que proteger animais é também proteger a saúde pública, a segurança e o próprio tecido social.
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