Estados defendem criação de fundo internacional para o Cerrado em encontro preparatório da COP30
Durante o evento COP30 Cerrados, em Brasília, secretária Andréa Vulcanis destacou a exclusão histórica do bioma nas políticas públicas nacionais e anunciou novo edital de pagamento por serviços ambientais com R$ 18 milhões destinados a comunidades tradicionais
Durante o COP30 Cerrados, encontro preparatório para a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), que ocorrerá em Belém (PA), líderes ambientais e representantes estaduais defenderam a criação de um fundo internacional exclusivo para o Cerrado. O evento, realizado nesta quinta-feira (9), em Brasília, reuniu secretários de meio ambiente e especialistas para discutir estratégias de financiamento e valorização do bioma, considerado o segundo maior do país e um dos mais ameaçados do mundo.
A secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad), Andréa Vulcanis, enfatizou que o Cerrado continua sendo um bioma negligenciado nas políticas públicas nacionais e internacionais, apesar de sua importância ecológica e econômica. “O Cerrado sempre foi tratado como um bioma lateral. Ficou fora da Constituição Federal, que reconheceu a Amazônia e a Mata Atlântica como patrimônios nacionais, e também fora das grandes agendas de financiamento climático”, destacou.
Segundo Vulcanis, a proposta de criação de um fundo climático específico para o Cerrado será apresentada de forma articulada pelos estados que compõem o bioma durante a COP30 em Belém, no próximo mês. “Não podemos mais pensar o Brasil apenas a partir da Amazônia. O Cerrado também precisa ser reconhecido, preservado e financiado. Ele é essencial para a regulação hídrica do país e para a segurança alimentar mundial”, reforçou.
Programa de Pagamento por Serviços Ambientais
A secretária apresentou também os resultados do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA Cerrado em Pé), iniciativa do governo de Goiás voltada à conservação de áreas nativas. O programa paga R$ 500 por hectare preservado, beneficiando produtores rurais e famílias que receberam até R$ 60 mil na primeira etapa.
Durante o evento, Andréa Vulcanis anunciou o lançamento de um novo edital de PSA, com R$ 18 milhões em recursos, destinado especificamente a comunidades tradicionais e povos indígenas. Segundo ela, o modelo será desenvolvido de forma participativa, com valores maiores e regras adaptadas às realidades coletivas. “É um passo importante para incluir quem historicamente protege o Cerrado, mas raramente é beneficiado por políticas públicas”, afirmou.
Cerrado: bioma vital e ameaçado
O Cerrado ocupa cerca de 24% do território nacional, abrangendo 11 estados e o Distrito Federal. É berço de oito das doze principais bacias hidrográficas brasileiras e abriga uma das maiores biodiversidades do planeta. No entanto, mais da metade da sua vegetação nativa já foi devastada, sobretudo por causa do avanço da agropecuária e da expansão urbana desordenada.
Especialistas alertam que a preservação do Cerrado é fundamental para o equilíbrio climático global, uma vez que ele atua como “caixa d’água” do país e influencia diretamente o regime de chuvas da Amazônia, do Pantanal e da região Sudeste.
A proposta de criação de um fundo dedicado ao bioma busca corrigir um desequilíbrio histórico no acesso a recursos internacionais de financiamento climático, que tradicionalmente se concentram na Amazônia.
Goiás como referência em políticas ambientais
Nos últimos anos, Goiás tem se destacado pela inovação em políticas de conservação ambiental. Além do PSA Cerrado em Pé, o estado implementou o Programa Juntos Pelo Araguaia e fortaleceu ações de recuperação de nascentes e áreas degradadas. Essas iniciativas colocam Goiás em posição de liderança no debate sobre o papel do Cerrado na agenda climática global.
“A COP30 Cerrados reforça que o futuro do clima no Brasil passa, necessariamente, pela proteção do Cerrado. É hora de o mundo reconhecer esse bioma como parte essencial da solução climática”, concluiu Andréa Vulcanis.
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