Comurg abre processos disciplinares contra ex-funcionários em meio a reestruturação e denúncias de irregularidades milionárias
Empresa pública de Goiânia apura possível esquema de rachadinhas e desvios administrativos em gestões anteriores; quatro PADs foram instaurados sob sigilo, enquanto prefeito Sandro Mabel denuncia dívidas bilionárias.

Em meio a um processo de reestruturação profunda e à revelação de um passivo financeiro bilionário, a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) instaurou quatro Processos Administrativos Disciplinares (PADs) para apurar possíveis atos ilícitos cometidos por ex-servidores e ex-funcionários. A medida, tornada pública na edição do Diário Oficial do Município de quarta-feira (16/7), marca um novo capítulo em uma crise institucional que se arrasta por gestões anteriores e culmina, agora, em ações de responsabilização interna.
Segundo informações apuradas pelo portal e confirmadas pela própria Comurg, os PADs investigam pagamentos considerados “expressivos”, que teriam origem em esquemas de rachadinha — prática ilegal de apropriação de parte dos vencimentos de servidores por superiores hierárquicos. Os processos seguem sob sigilo, e os nomes dos investigados não foram revelados. A apuração também envolve acordos extrajudiciais supostamente irregulares, desvio de função e falhas formais e materiais em procedimentos administrativos.
Em nota oficial, a Companhia assegurou que os processos seguem os preceitos constitucionais de legalidade, contraditório e ampla defesa. A iniciativa está inserida em um conjunto mais amplo de ações que buscam recuperar a credibilidade da empresa pública e adequar sua estrutura à realidade fiscal do município.
Dívidas e colapso administrativo
A gravidade da situação foi escancarada pelo prefeito Sandro Mabel (União Brasil) em coletiva à imprensa no dia 9 de julho. Segundo o chefe do Executivo municipal, as dívidas trabalhistas da Comurg ultrapassam R$ 1,2 bilhão. A isso somam-se dívidas “ocultas” não formalmente registradas nos balanços da empresa, que poderiam elevar o passivo total a mais de R$ 2 bilhões. Mabel foi categórico ao afirmar que há evidências de uma “conspiração organizada para lesar o erário”, com origem em diversas administrações passadas.
Na mesma ocasião, o prefeito anunciou a demissão de 668 empregados, incluindo 412 servidores aposentados e 253 funcionários ativos, como parte da reestruturação que visa reduzir em 27% a folha de pagamento da empresa até o final de 2025. A expectativa do município é atingir a solvência financeira da Comurg até outubro, equilibrando receitas e despesas sem necessidade de novos aportes emergenciais.
Aporte emergencial e ressarcimento de dívidas
Ainda na esteira do ajuste fiscal, a Prefeitura de Goiânia destinou recentemente R$ 58 milhões à Comurg. O montante refere-se a rescisões trabalhistas, precatórios e Requisições de Pequeno Valor (RPVs). Segundo o secretário da Fazenda, Valdivino Oliveira, esse repasse compõe parte de um plano de capitalização de R$ 190 milhões para evitar a paralisação dos serviços e restaurar a capacidade operacional da companhia.
O valor faz parte de um esforço para honrar passivos herdados e preservar o funcionamento de serviços essenciais como coleta de lixo, varrição de ruas, limpeza urbana e manutenção de espaços públicos. O secretário destacou ainda que novos desembolsos dependerão da transparência e eficácia da atual gestão da Comurg, que passou a ser monitorada com mais rigor pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO) e pelo Ministério Público.
Uma empresa em reconstrução
Criada em 1975, a Comurg é uma das maiores empresas públicas do estado de Goiás. Ao longo de sua história, foi responsável por serviços urbanos estratégicos, mas também acumulou denúncias de má gestão, inchaço da folha e ingerência política. A atual administração busca, pela primeira vez em décadas, reverter esse quadro com medidas estruturais, transparência nos processos internos e responsabilização de agentes públicos envolvidos em ilícitos.
Embora os Processos Administrativos Disciplinares sejam apenas o início de um processo mais amplo de responsabilização, o movimento sinaliza uma mudança de postura institucional e o compromisso com uma nova cultura administrativa na gestão pública de Goiânia.
Tags: #Comurg #Goiânia #SandroMabel #Corrupção #Rachadinha #AdministraçãoPública #ProcessoAdministrativo #ServiçoPúblico #Reestruturação #Transparência

