Promoções travadas: oposição freia projetos do governo Caiado que ampliam cargos nas forças militares de Goiás
Textos que aumentam o número de coronéis na PM e no Corpo de Bombeiros geram impasse na Assembleia Legislativa. Oposição denuncia falta de equilíbrio nas promoções e uso político da estrutura hierárquica militar.

A tramitação de dois projetos de lei encaminhados pelo governador Ronaldo Caiado (UB), que propõem a ampliação de efetivos e a promoção de centenas de militares na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros de Goiás, foi suspensa nesta terça-feira (10) após pedido de vistas da oposição na Comissão Mista da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). A decisão adia a análise de propostas que, além de ampliar o número de oficiais — com destaque para o aumento de coronéis da PM de 35 para 41 —, mobilizam milhões de reais em recursos públicos.
As propostas, que somam impacto superior a R$ 78 milhões anuais a partir de 2026, geraram forte reação de entidades representativas e parlamentares oposicionistas, que denunciam a falta de isonomia na distribuição das promoções entre as diversas patentes. Um dos principais críticos é o deputado Major Araújo (PL), tenente-coronel da reserva, que afirma que o projeto “fere a lógica estrutural das corporações militares” ao priorizar cargos mais altos, sem ampliação proporcional da base.
“Não se pode inchar o topo da pirâmide hierárquica sem dar sustentação na base. É um erro técnico grave e revela um viés político na composição dos quadros superiores. Isso enfraquece a meritocracia e mina o moral das tropas”, declarou Araújo em entrevista exclusiva.
Segundo ele, não há previsão de aumento para cargos como 2º sargento, 3º sargento, cabo e soldado — que concentram a maior parte do efetivo. “Há promoção para capitão, tenente, major e coronel, mas a maioria da tropa não será alcançada”, lamenta.
Além disso, o parlamentar aponta a omissão de categorias tradicionalmente esquecidas, como os quadros da saúde (médicos e dentistas) e os músicos militares, que desempenham funções essenciais, mas estão fora das propostas. “Esses profissionais são constantemente requisitados em eventos oficiais, mas continuam sem reconhecimento real.”
Impacto financeiro e embasamento político
De acordo com os projetos, a PM receberá 2.570 novas promoções, sendo 524 para oficiais e 2.046 para praças. Já os Bombeiros contarão com 737 promoções. Os custos, inicialmente estimados em R$ 26,3 milhões em 2025, dobram a partir do exercício seguinte, superando R$ 78 milhões anuais.
Apesar das críticas, o líder do governo na Casa, deputado Talles Barreto (UB), defendeu as propostas, afirmando que elas foram construídas em diálogo com lideranças militares e com base em reivindicações acumuladas.
“Estivemos com entidades representativas por semanas. O impacto financeiro previsto subiu de R$ 2,5 milhões para R$ 5 milhões por mês justamente para contemplar o maior número de militares possível”, disse Barreto, acrescentando que há previsão de aposentadorias que abririam espaço para novos quadros, inclusive nas áreas de saúde e música.
Segundo ele, parte dos ajustes será feita por meio de agregações, e o esforço do Executivo é manter o equilíbrio orçamentário sem deixar de valorizar o efetivo. “Não dá para atender todas as demandas de uma vez, mas vamos avançar muito.”
“Critério político sempre existiu”, afirma deputado da base
Mesmo entre parlamentares da base, há reconhecimento de que o projeto é incompleto. O deputado Coronel Adailton (SD), alinhado ao governo, afirmou que algumas categorias foram preteridas, mas considera o saldo geral positivo.
“Não é perfeito, mas é um bom projeto. O impacto financeiro foi ampliado após tratativas com a Secretaria de Segurança Pública e o Comando da PM. Mais militares serão beneficiados”, explicou.
Adailton também respondeu às críticas sobre o aumento no número de coronéis e o suposto uso político das promoções:
“Essa escolha sempre foi prerrogativa do governador. A comissão faz as indicações técnicas, mas a decisão final é política. Isso é inerente ao processo”, disse. Segundo ele, com a chegada de novos soldados por concurso público, a pirâmide voltará a um desenho mais proporcional.
O que dizem os especialistas
Para o pesquisador e ex-consultor legislativo Alexandre Cunha, a questão da proporcionalidade em promoções militares é sensível, pois envolve não só critérios técnicos, mas também questões de moral e disciplina nas corporações.
“Quando se promove apenas o topo, cria-se frustração na base. O ideal seria uma reestruturação orgânica, com crescimento proporcional e previsão orçamentária escalonada. Sem isso, o risco de desmotivação interna é real”, pontua Cunha.
A votação dos projetos deve ser retomada nesta quarta-feira (11), mas a expectativa é de embates intensos em plenário. A oposição quer emendas para corrigir o que chama de “vícios de origem”, enquanto o governo pretende aprovar as propostas com celeridade, antes do recesso parlamentar.
Nos últimos anos, o governador Ronaldo Caiado tem intensificado sua política de valorização das forças de segurança, com aumento de salários, concursos e promoção de efetivos. Contudo, críticas sobre o uso político desses incentivos vêm se acumulando, especialmente após a nomeação de aliados estratégicos para postos-chave nas corporações.
A disputa sobre os projetos de promoções da PM e dos Bombeiros revela muito mais que uma divergência administrativa: expõe o embate entre técnica e política em um setor historicamente sensível e central na segurança pública de Goiás. Com milhões em jogo e a moral da tropa em pauta, o desfecho exigirá não apenas articulação política, mas responsabilidade institucional e transparência.
Tags: #Goiás #PolíciaMilitar #CorpoDeBombeiros #AssembleiaLegislativa #RonaldoCaiado #PromoçõesMilitares #SegurançaPública #Oposição #PolíticaEstadual #Alego

