Após críticas e acidentes evitados, mureta de viaduto na Marginal Botafogo será rebaixada em Goiânia
Estrutura do Complexo Viário Luiz José Costa, inaugurado há três anos, compromete a visibilidade de motoristas e será modificada em até 30 dias após reclamações recorrentes e análises técnicas que apontam falha de concepção no projeto original.

Três anos após a inauguração do Complexo Viário Luiz José Costa, no cruzamento das avenidas Jamel Cecílio, Marginal Botafogo e Leopoldo de Bulhões, a Prefeitura de Goiânia prepara uma intervenção emergencial na mureta de concreto da rotatória do viaduto, cuja altura vem sendo apontada por especialistas e motoristas como fator crítico para a segurança viária. A estrutura, que deveria proteger pedestres e ordenar o fluxo, acabou comprometendo a visibilidade de quem transita principalmente pela Marginal Botafogo — e passou a ser vista como risco à integridade de condutores e pedestres.
A Prefeitura promete iniciar a obra de rebaixamento da mureta em até 30 dias. A redução da altura está condicionada apenas à liberação formal do engenheiro responsável pelo projeto original, elaborado por empresa terceirizada, conforme exige o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO). A autorização deve ser uma formalidade, já que os estudos técnicos internos da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) concluem que a mureta, estruturalmente, não tem função de sustentação.
“A mureta não tem função estrutural, é apenas um anteparo em caso de colisão. Mas está prejudicando a visibilidade, então faremos uma redução parcial para garantir segurança sem comprometer a função de contenção”, explicou Flávia Ribeiro Dias, superintendente de obras da Seinfra.
Segundo Flávia, a obra poderá ser feita por equipe própria ou por contratação externa, dependendo da viabilidade de minimizar impactos no tráfego. “O prefeito pediu prioridade e queremos finalizar o trabalho rapidamente após a autorização do projetista”, reforçou.
Problemas acumulados desde a concepção
O Complexo Viário, que teve sua execução iniciada em 2019 durante a gestão de Iris Rezende e deveria ter sido concluído em 2020, só foi entregue em maio de 2022 — dois anos depois do previsto. A obra custou R$ 32,5 milhões aos cofres públicos e, desde o início da operação plena, foi alvo de críticas recorrentes por falhas no projeto e execução.
Docente do Instituto Federal de Goiás (IFG) e especialista em Engenharia de Trânsito, Marcos Rothen, afirma que a problemática da mureta foi identificada já em estudos acadêmicos de 2022. “Alunos fizeram um TCC mostrando que a estrutura comprometia a visibilidade e era perigosa. Não é novidade. Isso é falha de projeto. E não é o único problema naquele complexo”, criticou.
Além da mureta, Rothen aponta ausência de acessibilidade e travessia para pedestres. “O projeto isola os dois lados da avenida. Como o pedestre atravessa? Não atravessa. O resultado final da obra é questionável, não trouxe o impacto positivo prometido e ainda compromete a segurança.”
Crea-GO defende concepção original, mas reconhece revisão como legítima
O presidente do Crea-GO, Lamartine Moreira, afirmou que a mureta seguiu uma concepção técnica legítima no momento de sua elaboração. “Não se trata de erro. É uma decisão de projeto, que parte de uma análise da realidade local feita pelo engenheiro e pelo gestor público. Mas se hoje a realidade mudou ou os efeitos foram negativos, é legítimo que se revisite o projeto”, ponderou.
Críticas se repetem em outros viadutos da capital
A mureta do Complexo Viário Luiz José Costa não é um caso isolado. Segundo Rothen, Goiânia sofre com uma série de intervenções viárias mal planejadas. Ele cita os viadutos das avenidas T-63 com 85, da Praça Delmiro Paulino da Silva e da GO-060 com a Avenida Castelo Branco, como exemplos de má concepção.
“Muitos desses viadutos aumentaram o congestionamento, criaram pontos cegos e praticamente excluíram o pedestre. O da Avenida 136, por exemplo, não tem faixa adequada e o semáforo pisca intermitente. O da GO-060 estreitou as vias e piorou o trânsito”, afirma.
Uma mudança tardia, mas necessária
Para urbanistas ouvidos pela reportagem, a decisão da Prefeitura de intervir na mureta representa uma correção tardia, porém inevitável. “Não é vergonha admitir que houve erro. Vergonha é manter o erro por orgulho técnico ou burocrático. Mobilidade urbana precisa ser dinâmica, centrada na experiência real do usuário”, avalia a arquiteta e urbanista Fernanda Mota, que já atuou em comitês de planejamento urbano em outras capitais brasileiras.
Ela ressalta que a readequação deve vir acompanhada de melhorias para a mobilidade ativa. “A ausência de acessibilidade e a negligência com o pedestre são constantes em Goiânia. Um projeto moderno precisa incluir todos os modais — inclusive quem caminha.”
A obra na mureta será um primeiro passo. Mas a cidade, dizem especialistas, ainda precisa percorrer um longo caminho para garantir segurança, fluidez e inclusão no sistema viário.
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