Mabel recua e admite ida à Câmara, mas diz que não tem o que falar sobre contas da gestão anterior
Após descartar presença no Legislativo, prefeito de Goiânia reconsidera comparecimento à audiência pública, mas declara que não pode prestar contas de atos que não são seus. Vereadores cobram explicações sobre rombo bilionário na Prefeitura.

A relação entre o Executivo e o Legislativo em Goiânia ganhou mais um capítulo conturbado nesta quinta-feira (13). Após afirmar que não compareceria à Câmara Municipal para a prestação de contas do terceiro quadrimestre de 2024 por não ter informações sobre a gestão de seu antecessor, Rogério Cruz (SD), o prefeito Sandro Mabel (UB) recuou e indicou que pode ir ao Legislativo. No entanto, manteve o tom de distanciamento em relação ao tema:
“Eu posso ir, eu não tenho problema nenhum em ir lá. Só não tenho o que falar. Eu vou falar mal? Porque eu vou falar do quê?” — declarou Mabel em entrevista.
A nova postura do prefeito foi anunciada um dia após sua recusa inicial gerar forte repercussão entre os vereadores. O embate ocorre porque, apesar de as contas serem referentes ao período anterior à posse de Mabel, a tradição em Goiânia — e o entendimento da Câmara — é de que o chefe do Executivo vigente deve assumir essa responsabilidade institucional.
A pressão aumentou depois que veio à tona um ofício assinado pelo secretário municipal de Fazenda, Valdivino de Oliveira, datado de 21 de fevereiro, solicitando a realização da audiência pública para prestação de contas. O documento contradiz a justificativa inicial do prefeito de que não havia necessidade de comparecimento.
Vereadores cobram explicações e questionam contradições
A postura de Mabel causou indignação entre alguns parlamentares, que passaram a questionar não apenas a recusa inicial do prefeito, mas também suas declarações sobre o déficit bilionário na Prefeitura. Durante a transição de governo, Mabel afirmou que a dívida herdada de Rogério Cruz chegava a R$ 3 bilhões, um valor significativamente superior ao apontado pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), que estima o rombo em R$ 600 milhões.
A vereadora Aava Santiago (PSDB) ironizou a situação e cobrou esclarecimentos:
“Se ele sabe que tem um rombo de R$ 3 bilhões, ele sabe mais que o TCM, porque o TCM está dizendo que o rombo é de R$ 600 milhões. Então, ele tem que explicar para a gente o que ele sabe que o TCM ainda não sabe.”
Já o vereador Coronel Urzêda (PL) criticou a falta de assessoria jurídica do prefeito, afirmando que a responsabilidade sobre a prestação de contas recai sobre a atual administração:
“Se não sabe nada do Rogério, por que tem rombo em Goiânia então?” — questionou.
Audiência mantida e relação com a Câmara fragilizada
Diante da polêmica, o presidente da Comissão Mista da Câmara, Cabo Senna (PRD), garantiu que a audiência pública está mantida para o dia 24 de março, às 8h. Ele reforçou que Mabel pode comparecer ou enviar sua equipe, mas que a prestação de contas será feita de qualquer maneira.
O impasse se soma a outros atritos entre o prefeito e os vereadores, que já demonstram insatisfação com a falta de diálogo e a demora no atendimento de demandas políticas, incluindo indicações para cargos e liberações de recursos.
Nos bastidores, parlamentares avaliam que a resistência de Mabel em comparecer à Câmara e a falta de alinhamento com o Legislativo podem aprofundar a crise entre os poderes. O episódio também levanta dúvidas sobre a real situação financeira da cidade e o impacto da transição na governabilidade de Goiânia nos próximos meses.
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