Crise na Saúde de Goiânia: Hospital Santa Rosa fecha as portas após 70 anos de história
Dívida milionária da Prefeitura de Goiânia leva ao encerramento das atividades de um dos hospitais mais tradicionais da capital, agravando a já crítica situação da rede de saúde municipal.
O Hospital Santa Rosa, localizado no Setor Campinas, anunciou o encerramento de suas atividades após 70 anos de história. A unidade, que desempenhava um papel crucial na rede municipal de saúde ao oferecer 6 leitos de UTI e 12 de enfermaria para pacientes do SUS, fecha as portas em meio a uma crise financeira que alega ser agravada por uma dívida de R$ 4 milhões da Prefeitura de Goiânia.
A decisão, divulgada pela diretoria do hospital nesta quinta-feira (23), interrompe não apenas o atendimento aos pacientes da rede pública, mas também aos usuários do setor privado. Cerca de 52 leitos, incluindo 10 de UTI, serão fechados definitivamente, enquanto a clínica de diagnósticos, situada ao lado do hospital, permanecerá em funcionamento.
Dívida e impactos para a rede municipal de saúde
O fechamento do Santa Rosa é mais um golpe para a saúde pública de Goiânia, que enfrenta uma crise prolongada de falta de leitos e recursos. Em 2024, a escassez de leitos de UTI resultou em quatro mortes de pacientes que aguardavam atendimento, evidenciando a sobrecarga do sistema de saúde municipal.
Segundo a direção do hospital, a dívida acumulada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) inviabilizou a continuidade das atividades. Apesar de receber parte dos repasses federais na última semana – um total de R$ 33,5 milhões para 160 prestadores de serviços SUS –, o Santa Rosa ficou de fora da lista de pagamentos prioritários da Prefeitura.
A SMS, em nota, afirmou que a atual gestão herdou um passivo de R$ 600 milhões em dívidas com fornecedores e que o bloqueio judicial das contas do Fundo Municipal de Saúde (FMS) tem impedido novos repasses, incluindo os destinados ao Santa Rosa.
No entanto, a falta de respostas concretas sobre o impacto do fechamento dos leitos de UTI no já saturado sistema público de saúde gera incertezas. Questionada pela reportagem, a SMS não esclareceu como pretende suprir a ausência dos serviços anteriormente prestados pelo hospital.
Um patrimônio de Goiânia sucumbe à crise
Fundado em 1955 por Said Rassi, o Hospital Santa Rosa não era apenas um marco da saúde em Goiânia, mas também um símbolo de pioneirismo no setor. Sua criação em Campinas, bairro mais antigo da capital, marcou um momento em que a cidade começava a expandir sua infraestrutura de saúde.
Após a morte do fundador, o hospital passou a ser administrado por seus filhos, que buscaram modernizar a unidade sem perder o compromisso com a comunidade local. Apesar disso, os problemas financeiros causados pela inadimplência dos gestores públicos se tornaram insustentáveis.
Em nota, a diretoria do hospital lamentou o encerramento, afirmando que “os esforços empreendidos não foram suficientes para superar os transtornos decorrentes dos débitos da administração municipal”. A instituição também destacou os prejuízos para os trabalhadores, fornecedores e pacientes, agradecendo a confiança da comunidade ao longo de sete décadas.
Sindhoesg alerta para cenário crítico na saúde privada
O Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás (Sindhoesg) manifestou solidariedade ao Santa Rosa, mas reforçou que o caso reflete uma crise estrutural no setor de saúde. Segundo o sindicato, outras instituições tradicionais, como o Hospital Santa Genoveva e o Hospital Lúcio Rebelo, também fecharam nos últimos anos devido à precarização dos serviços e atrasos nos pagamentos públicos.
“O fechamento do Santa Rosa é um alerta sobre a necessidade urgente de medidas efetivas para evitar que outros hospitais sigam o mesmo caminho”, afirmou a entidade em nota, cobrando maior compromisso dos gestores públicos com a saúde.
Prefeitura promete regularização, mas crise persiste
Em resposta às críticas, o prefeito Sandro Mabel (UB) prometeu que os pagamentos aos prestadores de serviços de saúde serão feitos “em dia” a partir dos próximos repasses federais. No entanto, a demora em solucionar o passivo herdado e a falta de um plano claro para reequilibrar a rede de saúde municipal têm gerado descrença entre fornecedores e instituições de saúde.
O caso do Santa Rosa ilustra os efeitos devastadores da má gestão e da falta de planejamento financeiro na saúde pública. Com o fechamento, Goiânia perde não apenas um hospital histórico, mas também um pilar importante no atendimento aos cidadãos mais vulneráveis.
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